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Ricardo Salgado fazia pedidos «diretos» à Tranquilidade para que a seguradora investisse no Grupo Espírito Santo. A revelação foi feita, esta quinta-feira, pelo ex-presidente da comissão executiva da companhia, Peter Brito e Cunha, na comissão de inquérito ao BES/GES. Ele, que é primo do ex-líder do grupo e do banco, foi quem autorizou essas operações. Quase todas sem discutir, sequer, com a sua comissão executiva.
Sem questionar«Era, às vezes. Às vezes, os pedidos eram feitos após uma reunião feita com as pessoas mais próximas dele [do departamento financeiro. Mas sim, pode dizer-se que era um pedido direto dele. Ele representava o acionista principal»
Esse valor foi repartido em quatro empréstimos, entre abril e junho de 2014, todos pedidos por Ricardo Salgado, que Brito e Cunha aprovou. «Fui eu que dei a autorização», disse, alegando que eram operações «benéficas» para a seguradora, que ia receber juros disso. Só um dos empréstimos, o primeiro, de 15 milhões de euros, «foi formalmente à comissão executiva».
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Mas, se eram positivas, por que é que não passaram pela comissão executiva? Foi o que quis saber a deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, lembrando que existiam reuniões semanais. Brito e Cunha argumentou com a pressa.
«Pelo caráter de urgência e o facto de serem verdadeiramente temporárias . Eu tive de decidir na hora, sem os consultar. Eles souberam depois»
«Achavam que os montantes adicionados já eram demais»«A última, de 50 milhões, foi para ajudar a ESFG a poder participar no aumento de capital do BES. Quem era a Tranquilidade para dizer que não? Havia as razões todas e mais algumas para não questionar isso ao acionista. O acionista esteve lá 25 anos e nunca fez mal à companhia. Não ia ser eu o mau da fita...»
À luz do desfecho do GES e do BES, reconhece agora, «é muito fácil criticar essas operações», mas, naquela altura «eram benéficas para a companhia», insistiu.
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Constantemente consultado pelos advogados que o acompanharam à audição, assumiu ainda que «não havia procedimentos internos para tratar de investimentos desta natureza». Mas, assinalou: «É óbvio que eu não assinei sozinho. E é óbvio que não ia ser outro administrador que não o administrador financeiro» a rubricar por baixo. Referia-se a Miguel Moreno.
Já quanto à razão de só a 6 de junho de 2014 ter comunicado ao Instituto Português de Seguros, as transações com o GES (quando os empréstimos tinham sido feitos entre abril e junho), Peter Brito e Cunha respondeu novamente só depois de ouvir os seus advogados:
«Basicamente não houve razão específica nenhuma. Foi o que foi. Percebi que estava a chegar a um ponto importante»
E, fez questão de lembrar, a Tranquilidade não era «a única» empresa do GES a investir no próprio grupo.
Já no mês da derrocada do grupo e do banco, o GES propôs à Tranquilidade que ficasse com ações como forma de pagamento do primeiro empréstimo, no valor de 15 milhões de euros. Houve mais três: de 40 e 45 milhões de euros (para investimento em papel comercial) e de 50 milhões, para que a Espírito Santo Financial Group (que detinha a Partran, dona da seguradora) reforçasse a sua posição no aumento de capital do GES. A Tranquilidade recusou, porque aí, alegou Brito e Cunha, já sabia dos problemas. Dessa vez, assumiu, foi «o mau da fita».
O ex-gestor está reformado desde 15 de janeiro deste ano, altura em que saiu companhia, que foi comprada pelo grupo norte-americano Apollo. Recusa, como foi noticiado, que tenha sido «afastado». «Entrei em 1990 e fiz 25 anos de casa. Foi uma grande parte da minha vida profissional. Entrar na reforma foi uma escolha totalmente minha», sustentou.
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