O Estado português avançou esta segunda-feira com uma nova emissão de Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), dirigida às famílias portuguesas.
Numa altura em que as taxas de juro, dos depósitos a prazo, podem ser menos interessantes, fomos saber junto de um especialista do mercado, Filipe Silva, diretor da Gestão de Ativos do Banco Carregosa, o que pensa sobre esta operação e quais as vantagens, ou não, para quem tem algum dinheiro para aplicar.
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Uma OT é um título de dívida emitido pela República Portuguesa, em que quem compra empresta dinheiro ao Estado por um prazo pré-definido, recebendo em troca uma remuneração: uma taxa de juro durante o período de vida da OT e o montante total investido no final do período. É um instrumento de dívida pública, uma forma de financiamento o Estado através do mercado (isto é, todas as pessoas ou entidades que optam por comprar esta dívida/fazer este empréstimo).
Neste caso, estamos a falar de OTRV, ou seja, são obrigações em tudo semelhantes às OT mas que se destinam a investidores particulares e têm uma taxa variável, por oposição às OT que podem ter uma “taxa cupão” fixa. (As OT tanto podem ter taxa fixa como variável. As OTRV têm sempre taxa variável).
2 - A operação em concreto, que arrancou hoje, compensa?Como há poucas alternativas de investimento, para um grau semelhante de risco, este produto acaba por ser atrativo.
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Estas OTRV têm como remuneração uma taxa de 1,9% mais a taxa Euribor a 6 meses, que neste momento está negativa em -0,24%. Se a taxa Euribor subir, também subirá a taxa de juro destas obrigações. E o mais provável é que ao longo dos próximos 5 anos, tal venha a acontecer.
4 - Qual o valor mínimo da subscrição e se o investir [valor mínimo] quanto posso ganhar, no máximo?Se investir 1.000 euros, nas condições atuais receberia apenas 1,9% ao ano (dado que a taxa Euribor está negativa) mais a totalidade do capital investido ao fim dos 5 anos (supondo que o investimento seria para manter até à maturidade.)
Mas pode ganhar mais se (i) a taxa Euribor subir (passaria a receber 1,9%, acrescidos da Euribor) ou se, - e estas condições até podem ser cumulativas – o preço da obrigação ultrapassar os 100 e vender nesse momento, sem esperar pelo fim dos 5 anos. Claro que, se vender antes, deixará de receber os juros a que teria direito se mantivesse o título em carteira.
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O investidor só ganhará mais se (i) o preço da obrigação subir e ele vender nesse momento, ou se (ii) os juros subirem (e como é uma taxa variável, o que subir a Euribor será refletido no rendimento deste título).
6 - Ganhos mais com estas OT de taxa variável, em certificados de aforro ou em depósitos a prazo?Como a taxa é variável e não sabemos qual vai ser a evolução da Euribor, não é possível calcular. Que podemos dizer é que se a Euribor não mudar, estas OTRV garantem 1,9% de rendimento (1,36%, líquidos de impostos). Os “Certificados de Tesouro Poupança Mais” pagam 1,25% no primeiro ano e têm uma taxa crescente para quem os mantiver durante 5 anos, atingindo nesse caso uma remuneração média de 2,25%.Os depósitos a prazo pagam menos, embora deva ser visto caso a caso, consoante o cliente e o banco.
7 - Qual a taxa oferecida?1,9% mais Euribor a 6 meses (que neste momento está negativa).
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Sim, por comparação com outras alternativas. Tem a vantagem de poder subir, quando e se subirem as taxas Euribor.
9 - As OT têm maior risco do que os anteriores produtos, certo?Quando se “empresta” dinheiro a alguém há sempre o risco da pessoa/entidade não pagar. Nas OT acontece a mesma coisa: há risco de capital (total ou apenas uma parte) se o Estado entrar em incumprimento (default). Em caso de default, os certificados de tesouro não serão abrangidos. Neste caso, tratando-se de obrigações destinadas ao retalho (investidores particulares) é possível que possam ser excluídas de um eventual default, tal como acontece com os Certificados de Tesouro.
10 - Há alguma desvantagem nas OT? As comissões que pago são elevadas?Para um investidor conservador é uma boa proposta, na medida em que poderá conseguir um rendimento mais elevado do que se tiver um depósito a prazo. E pode mobilizar o dinheiro antes, se precisar dele, perdendo apenas os juros futuros (isto é, recebe os juros diários até ao dia da venda).
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O Estado financia-se com as poupanças dos investidores e neste momento, a uma taxa mais baixa do que e fosse uma emissão de OT normal (dirigida a institucionais). As OT “normais” estão a pagar, para a mesma maturidade 2,22%. Enquanto a Euribor não subir o Estado vai pagar por estas OTRV 1,9%.
12 - O que acontece se a procura superar a oferta?Haverá rateio.
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