Os dias que correm são únicos. Estamos a atravessar uma crise sem precedentes. Para muitos, são momentos desesperantes. Mas a realidade pode ter duas interpretações e podemos olhar para ela com receio ou como uma oportunidade.
Esta crise económica teve uma origem fundamentalmente financeira, traduzindo-se nos dias que correm em problemas de liquidez demasiado profundos e na dificuldade extrema dos bancos (especialmente os bancos dos chamados PIIGS, sigla que se refere a Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) de aceder a financiamento, quer interbancário, quer nas bolsas, quer junto dos cidadãos dos países.
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Sendo certo que a dificuldade de financiamento das famílias se tem de traduzir em aumentos de custos, torna-se também imediato que os problemas de financiamento dos bancos têm, também eles, de vir acompanhados de aumentos de custos. E, para o que importa, vamos deter-nos nos depósitos a prazo.
Os depósitos a prazo são produtos de financiamento dos bancos junto dos cidadãos de um país, com determinado custo e prazo, definidos contratualmente. São produtos regulados por leis específicas e com a garantia dos Estados (com o desenvolvimento da crise a garantia, em Portugal, passou de 50.000€ de capital e juros para 100.000€ de capital e juros). É essencial que este meio de financiamento esteja limpo e sem qualquer constrangimento ou receio, de modo a garantir que as pessoas colocam as suas poupanças no sistema financeiro, que supostamente as fará chegar a agentes económicos com necessidades de financiamento.
Como sabemos da teoria financeira, a utilização de capital tem associada um custo, na forma de juro, de modo a compensar quem empresta pelo risco que incorre e remunerar o próprio capital. Os depósitos a prazo não são excepção. Têm associada uma taxa de juro, que actualmente facilmente supera os 3%, podendo mesmo atingir 8-9%, dependendo dos montantes e prazos associados (estes valores comparam com taxas de 1-2% que assistimos não há muito tempo).
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São os dois lados da crise: para quem tem excesso de capital, as opções são cada vez mais atractivas. É certo que o risco espreita. Mas também é certo que as garantias que os depósitos a prazo e que a banca gozam torna este tipo de investimento bastante interessante.
Muitos autores em finanças pessoais referem que os depósitos são produtos pouco atractivos e para pessoas/investidores/aforradores menos agressivos ou mais conservadores. Aliás, este é um dos activos que os portugueses mais subscrevem, seja por desconhecimento, por cedência às pressões da banca ou mesmo por aversão ao risco.
Contudo, diz-nos a teoria financeira que uma carteira de investimento eficiente tem de incluir aquele que é chamado o activo sem risco. Podem-se esgrimir argumentos quanto ao nível de risco destes activos. Mas, até ao valor da garantia, podemos considerá-los investimentos com muito pouco risco associado.
É claro que consideramos este momento de crise como uma oportunidade para o investidor, mas o pragmatismo é essencial: devemos procurar informação sobre a qualidade de crédito dos bancos e perceber que, se um banco oferece taxas muito superiores a outro, alguma coisa não estará bem. Ou é por que o banco é mais pequeno e tem a necessidade de atrair fundos de forma mais agressiva. Ou porque o banco está a desenvolver alguma campanha por algum objectivo específico. Ou simplesmente porque alguma coisa não está bem (temos dois exemplos em Portugal, com horizontes não muito longínquos que poderão avivar a memória dos mais esquecidos).
Na próxima segunda-feira, neste espaço dedicado ao dinheiro pessoal e poupança, vamos analisar os investimentos em bolsa.
Texto de João Morais Barbosa e Ricardo Ferreira, autores do «Manual das Finanças Pessoais» (Editora Babel) e professores na Escola Financeira
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