Já fez LIKE no TVI Notícias?

«UGT entregou tudo a troco de nada». De que vale rasgar acordo?

Relacionados

Ex-líder da central sindical, Torres Couto, diz que «há muito que a UGT devia ter batido com a porta»

A UGT ajoelhou e agora pouco há a fazer. «Abriu um precedente gravíssimo. Entregou a cesta carregada de direitos ao Governo a troco de nada». Palavras do antigo secretário-geral da UGT, Torres Couto, quem mais acordos com o Governo negociou em Portugal.

Está «espantado» como é que «só agora» a central sindical está a ponto de rasgar o acordo tripartido alcançado com o Governo. O verniz estalou com a entrega no Parlamento da proposta de lei para reduzir as indemnizações por despedimento para 12 dias por cada ano de trabalho, sem negociação prévia.

PUB

Desde que assinou o acordo, « o Governo não tem feito outra coisa a não ser violá-lo constantemente e com o beneplácito da UGT», que «não reagiu às primeiras violações do acordo e agora está numa situação dramática». «Há muito que devia ter batido com a porta. O Governo nunca cumpriu nem respeitou», disse à tvi24.pt.

Se João Proença chegar a denunciar o acordo, valerá de pouco: «É um bocado um lavar de mãos. Porque a parte nociva para o movimento sindical e para os trabalhadores, o Governo já a aplicou toda. Já está em lei. A UGT não vai denunciar praticamente nada, pouco molesta o Governo».

A central sindical «aceitou coisas que seriam difíceis de aceitar que eu não aceitaria. Deveria ter assinado um acordo que não tivesse contempladas cedências de princípios fundamentais. Mas estava no seu direito, aceitou. A partir daí, o Governo imediatamente aplicou tudo o que era mau: tornou os despedimentos mais baratos, reduziu um conjunto enorme de direitos. Não satisfeito com isso, passou sistematicamente a violar o acordo. A UGT dizia se vão por aí, denunciamos, mas nunca o fez. Agora chega-se à beira do precipício».

PUB

E, para piorar, o Executivo «desrespeitou ainda todos os outros acordos alcançados antes, na área da segurança social, pensões, formação profissional, salário mínimo», exemplificou.

Se a rutura vier a acontecer agora é, no fundo, «uma tentativa tardia de sacudir responsabilidades. O engenheiro João Proença chegou agora à conclusão a que cheguei há um ano. Que o acordo era mau, era um logro para os trabalhadores, que abres a portas ao despedimento maciço. Apregoava-se que era fundamental para o emprego, mas vemos o desemprego aumentar». Portanto, «não era mau, era péssimo». Proença «está a tentar sair disto com o mínimo custo possível, mas para os trabalhadores os custos já são enormes».

O Governo mostrou esta quinta-feira, já depois de ter enviado a proposta de lei para o Parlamento, disponibilidade para negociar, mas Torres Couto entende que «dificilmente cederá» e não percebe porque é que, querendo dialogar com os parceiros, o Executivo «deu a proposta como um facto consumado e a enviou para a AR».

PUB

«Tudo isto é patético». O Executivo dá mostras de estar «completamente desorientado, aos ziguezagues. O parceiro de coligação diz uma coisa, o Governo outra. Estamos perante a ameaça de uma crise política inevitável. O Governo dificilmente poderá concluir mandato. Tem todos os germes da destruição e da incapacidade. A coligação não é casamento entre duas pessoas que se respeitam, mas uma união entre dois partidos que se desrespeitam e traem constantemente. Só podemos esperar o desastre».

O que fará então o atual líder da UGT? O ex-secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, não faz previsões. Diz que a UGT é que tem de definir.

Limita-se a sublinhar que «no meio disto há cenas caricatas. O CDS a fazer de esquerda, a fazer da parte boa do Governo. Desde o início do processo é absolutamente claro o que o Governo quer. Quer reduzir profundamente a retribuição do trabalho em Portugal. E facilitar os despedimentos. Tem como uma das estratégias colocar muita gente no desemprego. Isso é indiscutível - e de preferência colocá-los fora do país. Tudo isto é triste».

PUB

Relacionados

Últimas