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Foi aí que se descobriu que havia um problema grave nas contas da ESI. A holding de topo do GES estava numa situação muito frágil para fazer face aos seus compromissos para com o banco, que lhe emprestava dinheiro, e para com os clientes que investiram na sua dívida. 3- GOVERNANCE É, simplificando, a gestão da empresa, isto é, o conjunto de regras, procedimentos e decisões que afetam a maneira como uma empresa é gerida, administrada e controlada. As relações entre os vários órgãos de gestão também estão subjacentes à governance: entre administradores, acionistas, financiadores e clientes. No caso do GES e do BES, havia uma superconcentração de poderes em Ricardo Salgado. Fazendo um balanço das audições, quase podemos ouvir, em uníssono, todos os inquiridos com ligações ao ex-dono disto tudo, a confirmar essa visão. O próprio recusa o rótulo de «todo poderoso» e chama à sua alçada apenas o controlo da parte financeira.
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Mas é também ele que assume que havia «defeitos de organização» no Grupo Espírito Santo, com os «problemas de gestão» a fazerem-se sentir a partir de 2007 e 2008. A ocultação de passivo da Espírito Santo Internacional (ESI), essa, foi «um desastre», assumiu, empurrando culpas para o contabilista do GES. Machado da Cruz, por sua vez, disse que foi tudo ideia e ordem de Salgado.
4- COMPLIANCE
Esta palavra deriva do verbo to comply (em inglês) que significa agir de acordo com as regras. Ou seja, estar em compliance é estar em conformidade com as leis e regulamentos internos e externos, numa empresa. Sobretudo desde a crise de 2008, com a falência do Lehman Brothers, o sistema financeiro mundial sentiu necessidade de reforçar a legislação e a regulamentação. Daí, resultaram normas e procedimentos, regras de conduta e de relacionamento com clientes, bem como princípios éticos para serem respeitados pelas empresas e suas administrações, evitando, lá está, o risco de compliance. O BES começou por ter um gabinete para o efeito que veio a ser substituído, depois, por um departamento de compliance, com mais poderes e equipa própria. Não serviu para evitar o colapso. A auditoria forense do Banco de Portugal, divulgada em março de 2015, mostra que houve pelo menos 21 desobediências às determinações do supervisor.
5- TABLEAU DE BORD É um instrumento de informação rápida, que permite ter noção dos dados mais importantes de uma empresa, para poder decidir e atuar no curto prazo. Esses dados dizem respeito a resultados e variáveis chave para o controlo interno da gestão. Ao contrário das outras, não foi uma expressão repetidamente invocada nos longos quatro meses da comissão de inquérito, mas entra para o top 5 pelas circunstâncias em que foi proferida, já na reta final da comissão, por três homens que desempenharam funções de relevo na Portugal Telecom – Zeinal Bava, Henrique Granadeiro e Pacheco de Melo. O ex-presidente da companhia de telecomunicações Zeinal Bava protagonizou provavelmente a audição que mais desiludiu os deputados e o esclarecimento público, pelos constantes «não tenho memória» que usou para responder. Mas do estrangeirismo tableaux de bord, esse, não se esqueceu. Embora tenha admitido conhecer a exposição da PT à ESI, alegou que quando saiu da operadora e foi liderar a Oi, não lia os tableaux de bord que recebia por e-mail. Neles, estavam detalhadas as aplicações de tesouraria da PT. O último investimento - que se veio a revelar desastroso - foi nada menos do que 900 milhões de euros que, pura e simplesmente, se perderam com o colapso do GES. Isso levou o BES por arrasto. A PT também apanhou por tabela. E não foi pouco.
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