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«Os políticos não têm o direito de afirmar a sua religião»

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Palavras do bispo de Baucau

O bispo de Baucau, Basílio do Nascimento, costuma dizer aos colegas europeus em Timor-Leste que «os princípios de Descartes não se aplicam aqui».

«Os pensamentos lógicos cartesianos não são inteiramente aplicados», explicou o bispo de Baucau à Agência Lusa este fim-de-semana, em Soibada, distrito de Manatuto (centro).

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Abordar a concordata entre Timor-Leste e o Vaticano, que está a ser finalizada em Díli, implica falar da influência da Igreja no Estado e também questionar a experiência religiosa de José Ramos-Horta no seu desempenho como chefe de Estado.

«A afirmação da fé do líder aproxima o povo da liderança», responde Basílio do Nascimento.

Ramos Horta dividido entre Díli e o mundo

Basílio do Nascimento ressalva que não pretende arriscar um «processo de intenção» e que «a caminhada espiritual de Ramos-Horta é uma coisa pessoal».

«No entanto, como todos os fenómenos, é observável do exterior» e, portanto, passível de análise, que o bispo de Baucau admitiu fazer para a Lusa.

«Se ler a constituição de países europeus, como Portugal ou França, é claro que os políticos não têm o direito de afirmar a sua religião. Mas aqui na Ásia é diferente», nota Basílio do Nascimento.

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«Na Ásia, a dimensão religiosa do líder é muito apreciada e é muito importante para o seu currículo», diz.

O Presidente da República, que foi aluno no Colégio de Soibada, foi este ano o peregrino «de honra» na peregrinação anual de Nossa Senhora de Aitara, um santuário sobranceiro à aldeia.

«Não sei qual é a influência da fé no trabalho de Ramos-Horta como Presidente. Mas como homem, sim, tem uma influência nele e, indirectamente, pode actuar no seu trabalho», admite.

«É muito possível que Ramos-Horta não tenha recebido uma formação muito estruturada sobre o conhecimento de Jesus Cristo mas penso que é alguém que, ao longo da sua vida, fez perguntas sobre isso mesmo», acrescenta.

«Há uma busca muito profunda do lado religioso e de Cristo na vida de Ramos-Horta. Penso que passa a dimensão cultural apenas para entrar na dimensão do sentido da vida», afirmou ainda Basílio do Nascimento.

«O que o levou a isso? Tenho a certeza que a experiência do 11 de fevereiro ajudou Ramos-Horta a aprofundar um bocado mais ou a sentir-se correspondido na sua busca», responde o bispo.

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«Ele próprio usa as imagens e sensações que ele teve como sendo intervenção divina na sua vida. São muito pessoais», conclui Basílio do Nascimento.

José Ramos-Horta, na sequência de um ataque pelo grupo do major Alfredo Reinado à sua residência em Díli, foi atingido a tiro e transferido para Darwin, Austrália, em coma profundo.

O próprio chefe de Estado afirmou que a sua sobrevivência é algo que «só os bispos ou o Vaticano podem explicar».

«A vida é curta e a vida é bela», disse José Ramos-Horta à Lusa em Soibada sobre o que mudou nele depois de Fevereiro.

«Deus deu-me uma segunda oportunidade para nenhum outro objectivo que ajudar o meu povo e o meu país», explicou.

José Ramos-Horta manifestou o seu total apoio à concordata com a Santa Sé e adiantou que «os valores do Vaticano são os valores de Timor-Leste».

«Não há timorenses que não sejam religiosos», frisou também o chefe de Estado sobre reacções adversas à assinatura da concordata.

«A sociedade timorense reage (à experiência de fé do Presidente) partilhando e admirando», resumiu o bispo Basílio do Nascimento antes da missa vespertina, sábado passado, em Soibada - a que o Presidente decidiu não ir porque, «com a missa de domingo, seriam missas a mais».

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