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Refugiados: Guterres traça cenário dramático

Novas crises somam-se a «velhos conflitos que não morrem»

A multiplicação das crises e a sua maior imprevisibilidade, os «velhos conflitos que não morrem» e o acesso mais difícil às vítimas dos conflitos criam um cenário «dramático» para os refugiados em todo o mundo, afirmou António Guterres.

«As crises multiplicam-se, as velhas crises têm dificuldades em morrer e é cada vez mais difícil o acesso às vítimas dos dramas humanitários. A situação de segurança nos países em crise torna cada dia mais difícil chegar a quem precisa de proteção e assistência», disse em Madrid o alto comissário da ONU para os refugiados.

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António Guterres falava aos jornalistas em Madrid onde na segunda-feira se reuniu com o chefe da diplomacia espanhol, José Manuel García-Margallo e onde hoje analisou os desafios a que se enfrenta atualmente o ACNUR.

Guterres referiu-se à «multiplicação das crises sem precedente no passado recente» ¿ como as da Costa do Marfim, Líbia, Síria, Iémen, Corno de África, Sudão e Mali que ajudaram a que em 2011 se tenham registado 800 mil novos refugiados.

Cerca de 80 por cento dos mais de 10,5 milhões de refugiados em todo o mundo estão ainda a viver no sul, em países em desenvolvimento, ainda que no ano passado se tenha registado um aumento de 15 por cento no número de pedidos de asilo na Europa, para 227 mil.

O alto-comissário destacou o facto da «proteção dos refugiados se manter muito elevada no mundo em desenvolvimento» e de, «em todas as crises, os países vizinhos manterem as fronteiras abertas, permitindo a entrada de todos os que estavam a fugir».

No plano europeu, porém, Guterres considera que o debate sobre o asilo deve ¿reconhecer esta generosidade dos povos em desenvolvimento¿ assumindo o ¿mesmo compromisso de solidariedade que deve ser aplicado na Europa¿.

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Nota-se, sublinhou, um cenário europeu de «grandes disfuncionalidades» com políticas de asilo «completamente diferentes» que implicam que o mesmo cidadão que peça asilo possa ter uma possibilidade de êxito que varia entre os 8 e os 91 por cento».

«É necessário mais do que nunca uma harmonização das políticas de asilo a nível europeu e essa expressão de solidariedade», disse.

«O ACNUR apoia todas as indicativas, tanto legislativas como em termos de cooperação para que a Europa possa ser um continente de asilo, mas com práticas harmonizadas onde seja possível de uma forma mais similar encontrar proteção nas diferentes partes da UE», sublinhou.

A par da multiplicação das crises e da sua «imprevisibilidade» António Guterres referiu que «os velhos conflitos parece que não morrem» com «as antigas situações de deslocamento de populações (Afeganistão, Iraque ou Colômbia, por exemplo), a terem cada vez mais dificuldades para encontrar soluções».

Isso significa que o ACNUR que na última década ajudou anualmente cerca de um milhão de pessoas a regressar em segurança às suas casas, nos dois últimos anos só conseguiu apoio 200 mil por ano a regressar.

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«É cada vez mais difícil encontrar soluções para os problemas dos refugiados e cada vez temos refugiados que o são a mais longo prazo. Setenta por cento dos 10,5 milhões de refugiados em todo o mundo estão nesta situação há mais de 5 anos», disse.

O responsável do ACNUR referiu-se ainda ao que classificou como o «estreitamento do espaço humanitário» com a situação de insegurança nos países em crise a tornar «cada vez mais difícil o acesso às vítimas dos dramas humanitários, chegar a quem precisa de proteção e assistência».

«Os conflitos não são claros como tradicionalmente se viam no passado, entre dois países ou entre um governo e movimentos rebeldes. Hoje, no mesmo pais encontramos forças do país, grupos políticos, milícias armadas, milícias étnicas e religiosas, banditismo. E tudo se mistura numa situação que é também de imprevisibilidade», afirmou.

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