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Venezuela: portugueses refletem a polarização no país

Segundo maior destino de emigração nacional na América do Sul

Com 500 mil residentes portugueses, cerca de 300 mil de entre eles com origens madeirenses, a Venezuela tem o segundo maior contingente de emigrantes nacionais na América do Sul, logo a seguir ao Brasil. Numa comunidade desta dimensão não faz sentido esperar-se uma voz única. A Secretaria de Estado das Comunidades regista cerca de 60 clubes, associações culturais, câmaras de comércio e outras organizações de portugueses ou lusodescendentes, algumas das quais militam abertamente por uma ou outra candidatura. A polarização da sociedade venezuelana em redor desta eleições é manifesta também nos depoimentos de emigrantes portugueses, cujas simpatias políticas se repartem entre Maduro e Capriles.

Do outro lado da linha, Emília, há 35 anos na Venezuela, ouve a introdução do jornalista e responde: «Pode ligar-me daqui por cinco minutos? Não estou a ouvi-lo bem». Passado esse tempo, a segunda ligação corre melhor: «Desculpe, mas não estava sozinha. E não se sabe se podemos confiar em quem está ao nosso lado. Agora já podemos falar mais à vontade», diz, refletindo uma preocupação com a segurança que estende ao pedido de não ver divulgado o seu apelido e a cidade onde habitua, no estado de Anzoategui: «A situação está muito delicada e não podemos falar de qualquer maneira, para não sermos prejudicados. Gostava que no final destes eleições voltássemos a ter uma Venezuela segura, com todos capazes de se abraçarem, como antigamente. Foi isso que mais me chamou a atenção quando cheguei», conta.

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Embora não possa votar, ao contrário da família, Emilia não esconde a antipatia por Maduro: «O governo tem tem tudo a favor. Há um claro desequilíbrio de meios na campanha. Mas ele é um sindicalista que não sabe nada, nem a geografia do país. Não tem programa, agarra o livrinho de Chávez, e diz que este lhe apareceu em passarinho», critica. Mas a portuguesa, gerente de uma empresa de vendas, reconhece que a herança de Chávez pode pesar no desfecho eleitoral: «Chávez fez uma coisa boa de início: teve em conta os pobres, mas para manipulá-los melhor a troco de uns sacos de comida. As ditaduras dão-te um caramelo para te utilizarem depois», acusa.

Emilia dispara também contra o processo eleitoral: «O Conselho Nacional Eleitoral tem feito todas as patranhas possíveis pelo candidato do governo. Mas Capriles tem uma estrutura melhor, não é o mesmo candidato de 7 outubro. Por isso pode ganhar», diz. Por entre as preocupações com a insegurança nas ruas («está pior do que nunca») Emilia, que já foi alvo de sequestro e de um assalto violento sublinha um ponto positivo nesta campanha: «Não houve tantos incidentes, como no passado, a campanha foi mais curta. Por outro lado, Capriles usou várias vezes o twitter para abortar manobras de desestabilização. Por isso acredito que vai ser muito renhido. Mas Capriles vai precisar de dez anos para pôr o país no sítio», conclui.

De sinal contrário é a opinião de Gastão Aguiar, reformado de uma fábrica de produtos quimicos, a viver há 50 anos na Venezuela. Gastão vê um país a progredir e acredita que a morte de Chávez não vai alterar o cenário: «A vida melhorou em tudo, o que não melhorou foi nos estados governados pela oposição. A situação não vai mudar, porque Maduro vai dar continuidade ao que foi feito», assegura.

Residente em Valencia, segunda cidade do país, Gastão tem dupla nacionalidade e vai votar convictamente em Maduro: «Eu não me influencio por nada, mas sim pelo que vejo. Numa altura destas dizem-se muitas tonterias e mentiras», acusa, antes de sbulinhar que a campanha eleitoral tem decorrido «com muita participação, mas tranquila e sem incidentes». A candidatura de Henrique Capriles e as críticas dos seus apoiantes à falta de transparência nas eleições é desvalorizada pela voz do outro lado da linha: «Há trabalho por fazer, e há um grupo pequeno que quer fazer o que lhe dá na gana e ser dono da riqueza. São niños da burguesia», resume.

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