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Venezuela: uma vitória póstuma para Chávez?

Campanha eleitoral dominada pelo fantasma do presidente

Foi com a mobilização de centenas de milhar de apoiantes das candidaturas de Nicolás Maduro e Henrique Capriles que terminou a campanha eleitoral na Venezuela, na madrugada de sexta-feira. Uma campanha muito polarizada em torno do legado de Hugo Chávez, e com declarações e acusações de um dramatismo invulgar para os padrões europeus. Mas, ainda assim, com menos incidentes e conflitualidade do que as anteriores, talvez devido à curta duração.

Esta foi acima de tudo, uma campanha marcada pelo fantasma de Hugo Chávez: 37 dias depois do seu falecimento, o ex-presidente venezuelano dominou em absoluto a comunicação de Nicolás Maduro, o seu sucessor designado, e funcionou como um fardo emocional para o principal candidato da oposição, Henrique Capriles, que Chávez derrotou nas urnas em outubro passado. A tal ponto que, caso a votação de domingo confirme a vitória do candidato da continuidade, sugerida por quase todas as sondagens, bem se poderá falar de uma quinta vitória eleitoral de Chávez. Mesmo depois de morto, o presidente parece continuar a presidir aos destinos dos país que detém as maiores reservas mundiais de petróleo.

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Um dia depois de ter ordenado o fecho das fronteiras com a Colômbia e o Brasil, alegadamente por questões de segurança, Maduro, presidente em exercício, e candidato da continuidade bolivariana, jogou a cartada da dramatização, dando conta, no último comício, em Caracas, da detenção de um grupo paramilitar colombiano: «vinham aqui para matar», garantiu aos seus apoiantes. Um ingrediente mais para um tema recorrente das campanhas, o de ameaças de morte e sinistras conspirações e contra-conspirações de sinal contrário, que os dois candidatos garantiram existir sob mais do que uma forma, e em várias ocasiões.

Capriles, o candidato da oposição, também jogou no apelo emocional, acusando a máquina de campanha de Maduro de promover a insegurança da população: «Os que hoje governam nunca fizeram nada pela vossa segurança. No domingo, a escolha é entre a vida e a morte», afirmou.

Ao contrário do que tinha feito em outubro passado, o candidato da oposição recusou-se a assinar um documento apresentado pela Comissão Nacional Eleitoral em que se os candidatos se comprometiam a aceitar a validade dos resultados deste domingo. Desta vez, Capriles optou por criticar o laxismo da CNE perante a utilização de meios do Estado na campanha de Maduro: «Respeitaremos a vontade popular mas exigimos o fim do abuso de recursos públicos numa candidatura», lê-se no documento alternativo apresentado pelo seu chefe de campanha, Carlos Vecchio.

A acusação encontra eco em pelo menos um dos cinco elementos do CNE, Vicente Díaz, que em entrevista à Globovision sublinhou «a desproporção brutal de meios numa campanha pouco democrática», ao mesmo tempo que apontou «um processo claro de envolvimento do governo numa candidatura». O tema já tinha sido alvo de uma carta aberta endereçada à CNE por parte de vários políticos e personalidades influentes da América do Sul, receando vícios no processo eleitoral.

Para além desta acusação, os apoiantes de Capriles criticam também o oportunismo da colagem emocional de Maduro ao antigo presidente, atribuindo-a à falta de carisma e de ideias próprias do sucessor designado por Chávez. Para além da presença incónica do presidente falecido, em fotos, vídeos e cartazes, ou nos slogans («Com Chávez e Maduro o povo está seguro»), o presidente em exercício contou também com a participação empenhada na campanha de familiares de Chávez, como as filhas, ou o irmão mais velho, Adán. Algo que o candidato da oposição procurou diminuir numa interpelação direta repetida várias vezes ao longo da campanha. A frase «Nicolás, tu não és Chávez», mais do que a constatação de uma evidência, soa, neste contexto, quase como uma acusação a um candidato que se apresenta como «filho» espiritual do falecido presidente.

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