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Eleições no Brasil: o debate até sapos teve

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A enviada-especial da TVI no Brasil conta-lhe as peripécias da campanha eleitoral

A uma semana das eleições no Brasil, o quarto debate televisivo dos candidatos à Presidência da República foi um suado exercício de controlo, durou duas horas e na plateia houve de tudo, até sapos.

A noite passada, centenas de jornalistas, convidados, assessores políticos e segurança apertada esperaram pela chegada dos candidatos, que viajaram de helicóptero. Todos menos Marina Silva, candidata do PV e a grande sensação desta corrida por ser uma dissidente do governo Lula. Marina foi, ao longo de 7 anos, uma activa Ministra do Meio Ambiente mas abandonou a pasta depois de várias batalhas perdidas e em ruptura com a Ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, «afilhada» política de Lula e a mais bem colocada nas sondagens. Bem ao seu estilo, Marina Silva chegou de carro e quebrou o protocolo ao convidar uns apoiantes de rua a entrar. No meio de um auditório de fato e gravata, não passaram despercebidos: estavam vestidos de sapo.

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Dilma Roussef, a candidata do PT, partido há 8 anos no poder, tem obra feita que se apressou a recordar: Lula instituiu uma espécie de «rendimento mínimo» que tirou 24 milhões da pobreza e elevou outros 30 milhões à classe média. Facilitou o acesso ao crédito, permitiu o consumo, projectou um milhão de casas. Mas Dilma foi também o alvo preferencial dos opositores, sobretudo depois de conhecidos os escândalos que envolvem a Casa Civil - o ministério mais poderoso de Brasília e de que foi titular até se iniciar a corrida eleitoral. «Ou é conivência ou é incompetência», acusaram os adversários.

Mas foi José Serra, candidato do PSDB, que se engasgou quando a pergunta foi porque usou no seu tempo de antena a imagem de Lula da Silva - seu arqui-rival, para quem já perdeu a corrida ao Planalto em 2002. José Serra usou Lula mas desperdiçou o ex-presidente do seu próprio partido, Fernando Henrique Cardoso, de quem foi ministro por duas vezes. Serra contornou a polémica com os seus programas de sucesso: os genéricos e o fundo de amparo ao trabalhador (uma espécie de subsídio de desemprego). Recordou a sua biografia - prefeito, governador, ministro - com obra feita e 30 anos de serviço público, com «ficha e consciência tranquila».

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Dilma Roussef, que até há pouco tempo era desconhecida do grande público (só assumiu a chefia da Casa Civil depois do afastamento de José Dirceu, o ministro decapitado politicamente pelo escândalo do mensalão), tem uma vantagem tão grande nas sondagens que os adversários já só pedem a hipótese de chegar à segunda volta. Todos os candidatos direccionam os ataques ao PT, mas nunca a Lula da Silva - o presidente acaba o segundo mandato com uma extraordinária taxa de aprovação, 80 por cento, e ninguém quer cometer suicídio político. Ontem, Lula esteve sempre presente, mesmo sem ter falado.

Marina Silva, que só aprendeu a ler aos 16 anos, foi convincente no tom e na escolha de palavras. Falou de compromissos com a sustentabilidade e da intenção de governar com os melhores, independentemente da filiação partidária. Acenou com a bandeira da ecologia e na «vergonha» dos 14 milhões de brasileiros analfabetos. E apontou: «Serra e Dilma são muito parecidos.»

A grande prestação da noite coube a Plínio, candidato do PSOL e veterano da política, verdadeira bomba relógio. Arrancou gargalhadas à plateia e em certos momentos até aplausos de apoiantes que não eram seus... O advogado calou-se numa sua vez de responder, deixando a emissão em suspenso. O moderador, Celso Freitas, apresentador do Jornal da Noite da Record, incitou-o a continuar, mas Plínio respondeu com um encolher de ombros: «Me baralhei.»

No final, ninguém garante que os 6 milhões de indecisos ficaram mais esclarecidos. Mas parece claro que o grande vencedor foi Lula da Silva. Se as sondagens se confirmarem, Lula vai ceder o lugar a Dilma no próximo dia 3, mas apenas provisoriamente, porque esgotou os dois mandatos consecutivos. Lula da Silva promete voltar em 2014, mas sem nunca ter realmente saído de cena.

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