Racista e nacionalistas serão os únicos a beneficiar se os líderes europeus «abaterem» o novo governo grego anti-austeridade. É este o aviso que o ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, deixa aos homólogos europeus, numa entrevista ao jornal francês «Charlie Hebdo».
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Numa entrevista publicada esta quarta-feira na segunda edição do «Charlie Hebdo», desde que o ataque terrorista à redação, o académico de esquerda diz que os governos europeus vão sofrer se os governos como o grego forem «asfixiados», escreve a Reuters.
«Isto é o que eu digo aos meus homólogos: se pensam que é do vosso interesse abater governos progressivos como o nosso, apenas alguns dias após as eleições, então devem temer o pior», diz na entrevista.
O discurso grego foi mal recebido pelos governos europeus de direita e alinhados com o discurso de Berlim que, a pouco tempo de eleições, receiam uma viragem para a esquerda radical. Yanis Varoufakis responde assim aos colegas mais hostis, com quem recentemente negociou, apontando que o perigo existe para está na direita radical.
Depois de eleito, o governo grego iniciou uma «ronda» pelos principais parceiros europeus para conseguir apoios para «terminar» com a austeridade ao país. As negociações com o Eurogrupo foram complexas, tendo Atenas, por fim, cedido em alguns pontos para conseguir uma extensão do empréstimo por quatro meses. O governo de Alexis Tsipras ganhou assim algum tempo para apresentar medidas de austeridade quantificadas que convençam os parceiros europeus.
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Na entrevista desta quarta-feira, Yanis Varoufakis aborda também a política económica europeia e deixa algumas «farpas».
«Gostaria de começar por dizer-lhes que a todo o endividamento irresponsável corresponde um credor irresponsável. Antes de 2010, o capital abundante gerou um tsunami de empréstimos predatórios à Grécia. Em 2010, as coisas acabaram mal e Europa decidiu cobrar a nós, a vocês, as perdas do sector financeiro». Mas «o peso que recai sobre os ombros do contribuinte grego é simplesmente avassalador», diz.
«Antes da crise, apenas uma minoria dos gregos aproveitou este crescimento impulsionado pelo endividamento, enquanto que a maioria teve dificuldade em fazer face às despesas. E depois da crise, em que é que caiu o fardo? [...]Sobre aqueles que não tinham retirado qualquer benefício», lamenta.
A segunda edição após os ataques não criou as longas filas nos quiosques logo pela manhã para comprar o jornal, ainda assim a edição de hoje teve uma tiragem de 2,5 milhões de cópias, bem acima das habituais 60 mil antes do ataque.
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