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Treze horas na fila à espera

172 mil estrangeiros vivem em Lisboa: centenas estão à porta do SEF. Chegam de madrugada e até dormem lá. É melhor telefonar e fazer marcação, dizem serviços. Multidão no passeio discorda.

Chegam de madrugada, pelas quatro da manhã, e esperam. A porta do centro de atendimento do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) na Avenida Augusto de Aguiar, em Lisboa, só abre às 08:00, mas muitos imigrantes à porta do edifício garantem ao PortugalDiário que vale a pena chegar antes do sol se pôr.

«Mesmo assim só devemos ser atendidos às cinco da tarde», defende um ucraniano. «Todos os estrangeiros em Lisboa têm de vir aqui. O Santana Lopes disse que ia resolver isto, mas está tudo igual», desabafa outro ucraniano.

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O cenário à porta deste centro de atendimento, conhecido como o SEF do Parque, repete-se diariamente. Os estrangeiros começam a chegar de madrugada e recheiam o passeio e boa parte da via que liga a Avenida Fontes Pereira de Melo à Praça de Espanha. «Todos os dias há pessoas que dormem aqui», um natural de São Tomé e Príncipe.

E existe uma organização própria: os próprios estrangeiros criaram um sistema para não terem de estar o tempo todo em fila indiana. Quando chegam vão ter com a pessoa que organiza a lista nesse dia, dão o nome e é-lhes atribuído um número. Quinze minutos antes do centro abrir, as cerca de 200 pessoas enfileiram-se consoante a listagem.

Mas todo este esforço pode ser infrutífero. O SEF esclarece ao PortugalDiário que os estrangeiros que se deslocam ao serviço sem agendamento prévio «só poderão ser atendidos se o número de agendamentos não tiver esgotados a capacidade de atendimento diário».

Os serviços governamentais são claros no que toca a organização anárquica dos imigrantes. À porta do centro de atendimento está afixado um cartaz com as seguintes indicações: «Colabore. Não faça filas. Não faça listas. Não perca tempo. Não se enerve. Agende: 808202653». E porque não telefonam? «Eles não atendem», defende um moldavo. «Está sempre ocupado», afirma um ucraniano. «Nunca se resolve nada por telefone», argumenta um brasileiro. «É melhor vir cá», diz um cabo-verdiano.

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Mais de 172 mil estrangeiros em Lisboa

Vivem legalmente no distrito de Lisboa 172 641 cidadãos estrangeiros, segundo os dados provisórios de 2005 fornecidos pelo SEF ao PortugalDiário. E vão todos tratar da papelada a este centro? Os imigrantes à porta do edifício garantem que sim: «Para uma pessoa se conseguir legalizar, tem de vir aqui», diz um brasileiro, indignado com o tempo de espera. «Portugal está a tratar mal os que se querem legalizar e contribuir para o país. Os estrangeiros que não descontam, os ricos, esses não têm que estar na fila».

Descentralização nos serviços

O SEF esclarece que os imigrantes são atendidos em mais dois centros de atendimento em Lisboa, um nos Anjos e outro nos Restauradores: «A descentralização já existe na cidade de Lisboa».

Os imigrantes queixam-se da lentidão do atendimento, mas a direcção do serviço governamental frisa que o SEF do Parque, neste mês de Agosto, tem atendido 500 pessoas por dia e que, nos últimos meses, nos casos dos processos de autorização de residência o tempo de resolução do processo passou de 60 para 15 dias.

A verdade é que este centro de atendimento tem centenas de pessoas à porta todos os dias e que a informação sobre a descentralização dos serviços ainda não lhes chegou aos ouvidos. «Quem está ilegal tem de vir a este centro» é o que se ouve na Avenida António Augusto Aguiar.

Para resolver estes problemas de comunicação e outras questões sociais, o SEF vai passar a ter um mediador cultural neste centro de atendimento a partir do dia 15 de Setembro. A esperança do SEF é que estes funcionários, que partilham a mesma língua e hábitos culturais, contribuam para a melhor a proximidade no atendimento.

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