Manuela Ferreira Leite considerou, esta terça-feira, que a alternativa de esquerda proposta por António Costa para formar um Governo alternativo ao da coligação PSD/CDS é uma solução "controversa" e "muito frágil", que vai atirar uma "responsabilidade sem dimensão" ao Partido Socialista.
A ex-presidente do PSD reagia, assim, à concretização do acordo entre PS, PCP, BE e PEV, que esta terça-feira levou à aprovação de uma moção de rejeição que fez cair o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas, mostrando-se surpreendida com a efetivação de uma aliança que não parecia possível durante a campanha eleitoral.
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não seja “tão grande assim”“Hoje não fiquei surpreendida, mas o que se passou a seguir às eleições surpreendeu-me. Não fui capaz de perceber durante a campanha eleitoral, nem nos foi dada qualquer indicação – através de debates, de diálogo – de que seria uma hipótese a considerar uma maioria [de esquerda]. [Um Governo PSD/CDS com apoio do PS] penso que era o que as pessoas esperaram que poderia acontecer. [Esta] é uma solução legal a todos os títulos, [mas] do ponto de vista ético e político é uma decisão muito controversa e muito frágil. Porque quem lidera todo este processo é um partido que perdeu as eleições.”
“[Temos] restrições que sabemos que existem relativamente aos nossos compromissos europeus. Aquilo que eu direi sempre é que a margem de manobra de qualquer Governo não é tão grande assim, [para que se possa] pensar que há um Governo que faz uma coisa e outro que faz exatamente ao contrário. (…) Não conheço as contas [do PS] em profundidade para saber se estão certas ou erradas, dou o benefício da dúvida porque não é expectável que seja apresentado em Bruxelas um Orçamento que não esteja de acordo com os nossos fundamentais compromissos em relação à Europa.”
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Ainda que esta não seja uma solução que não agrade à ex-presidente dos sociais-democratas, Manuela Ferreira Leite considerou que Cavaco Silva não tem outra alternativa que não seja indigitar António Costa como primeiro-ministro.
“Na situação política a que se chegou, o Presidente da República não vai tomar outra decisão além daquela que a Constituição indica que faça. [Chamar António Costa para formar Governo] é a solução que existe nestes casos. Poderia existir a solução de haver um Governo de gestão, mas penso que durante os meses que seria necessário manter [esse Executivo] seria prejudicial, mais do que uma experiência com a qual nós podemos não estar agradados.”
Porém, a comentadora não deixou de criticar duramente a opção tomada de António Costa, por ter optado por tentar formar um Governo com apoio do PCP, BE e PEV, em vez que ocupar o lugar de líder da oposição, onde conseguiria “intervir com toda a eficácia”.
“Pessoalmente não estou [agradada com esta solução]. É uma solução extremamente debilitada e que atira com uma responsabilidade sem dimensão ao Partido Socialista. O PS neste momento tem a responsabilidade enorme de ter tomado uma decisão de deitar um Governo abaixo, em vez de ter tomado a iniciativa de intervir neste Governo, por ser o líder da oposição. Porque o facto de não ter maioria absoluta é exatamente o aspeto que leva a que um partido possa intervir com toda a eficácia”.
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