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Demissão "irrevogável" de Portas visou destruir credibilidade de ministra, diz Cavaco

Segundo livro de memórias do antigo Presidente da República relata episódio ocorrido em 2013 como uma decisão “incompreensível”, “absurda” e “absolutamente inaceitável”

A “demissão irrevogável” de Paulo Portas, em julho de 2013, do governo PSD/CDS-PP, foi incompreensível e “absolutamente inaceitável” e teve como propósito destruir a credibilidade da ministra das Finanças, revela o ex-Presidente da República Cavaco Silva.

Manifestei a minha total estupefação perante o que acabara de ouvir. Paulo Portas não me dera qualquer palavra, uma atitude inaceitável”, confessa Cavaco Silva no segundo volume das suas memórias, “Quinta-feira e outros dias”, que será apresentado na quarta-feira, em Lisboa, pela presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza.

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Classificando a tarde do dia 02 de julho de 2013 como “difícil de esquecer”, Cavaco Silva relata a forma como foi informado pelo então primeiro-ministro, Passos Coelho, por telefone da demissão de Paulo Portas da pasta dos Negócios Estrangeiros, a pouco mais de uma hora da tomada de posse de Maria Luís Albuquerque como ministra das Finanças.

Para o chefe de Estado a decisão “incompreensível”, “absurda” e “absolutamente inaceitável” de Paulo Portas “visava, propositadamente, destruir a credibilidade da nova titular da pasta” das Finanças, que ia suceder a Vítor Gaspar, que pedira em maio para sair do Governo.

Decidi enviar-lhe um lacónico SMS: ‘Não consigo compreender a sua carta. Está consciente das graves consequências para PORTUGAL?’”, conta Cavaco Silva, que contrapõe a atitude de “infantilidade pouco patriótica” de Paulo Portas, com “a serenidade, sentido de Estado e determinação” de Passos Coelho, que recusou demitir-se.

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Seguiram-se dias de intensos contactos, nomeadamente com o então secretário-geral do PS, António José Seguro, a quem Cavaco Silva questionou sobre a hipótese de formar um Governo com a participação de PSD e CDS-PP. Seguro, diz o ex-Presidente da República, comprometeu-se a estudar a proposta.

Veja também: Cavaco acusa Costa de "empurrar para a frente" problemas de fundo da economia

Com o país “mergulhado numa grave crise política”, Cavaco Silva propõe a Passos Coelho um “Compromisso de Salvação Nacional” entre PSD, PS e CDS-PP, que deveriam acordar o ‘timing’ mais adequado para a realização de eleições antecipadas, a aprovação de medidas para o regresso de Portugal aos mercados e um acordo de médio prazo dos três partidos ao Governo que saísse do ato eleitoral para assegurar o futuro da governabilidade.

Mas, enquanto decorria esta conversa entre Cavaco Silva e Passos Coelho, o primeiro-ministro recebeu um ‘sms’ de Paulo Portas que estaria “aberto a encontrar uma solução para a crise”.

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Paulo Portas, depois de refletir, comunicou a Passos Coelho que “aceitava tudo”: aceitava permanecer no Governo e ser vice-primeiro-ministro. Apenas não queria assumir a pasta da Economia, que ficaria para Pires de Lima.

O então Presidente da República decidiu não emitir “qualquer opinião”, remetendo a sua posição para o fim das audiências que já tinha marcado com os partidos.

Entretanto, Paulo Portas pediu para ser recebido por Cavaco Silva, altura em que reconheceu a “falha grave” cometida ao não ter informado o chefe de Estado do pedido de demissão, recordando que o CDS-PP sempre discordou da substituição de Vítor Gaspar por Maria Luís Albuquerque e que, por isso, reagira “em desespero de causa”. Um “ato de contrição” que Cavaco Silva admite ter sido “bem encenado”.

Nos dias seguintes, iniciaram-se as negociações entre PSD, PS e CDS-PP para o “Compromisso de Salvação Nacional”, que viriam a ser interrompidas pelo PS, com Cavaco Silva a acusar António José Seguro de falta de lealdade.

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Na tarde de 19 de julho, relata, esteve reunido com o líder socialista e pediu um último esforço de convergência. À saída António José Seguro terá dito que não acreditava ser possível chegar a um entendimento.

“Não voltou a falar-me e, às 20:00, viria a anunciar publicamente a rutura das negociações. Não foi leal da sua parte”, escreve Cavaco Silva, responsabilizando o PS pelo fracasso do Compromisso de Salvação Nacional.

“Foi, em minha opinião, o seu maior erro político. Perdera a oportunidade de concretizar o sonho de ser primeiro-ministro de Portugal. Os ‘socráticos’ e o presidente da Câmara de Lisboa foram corroendo e desacreditando a sua liderança como secretário-geral do PS”, refere, considerando que apesar de “simpático e correto”, António José Seguro revelou-se “inseguro, medroso e sem capacidade de liderança” e seria “um primeiro-ministro fraco”.

Goradas as possibilidades da construção do Compromisso de Salvação Nacional, Cavaco Silva daria, alguns dias depois, posse a Paulo Portas como vice-primeiro-ministro, numa remodelação governamental que abrangeu ainda as pastas da Economia, Negócios Estrangeiros, Ambiente, Agricultura e Segurança Social.

“Não tendo sido possível alcançar um Compromisso de Salvação Nacional, a melhor solução governativa era a continuação em funções do Governo de coligação PSD/CDS-PP, com garantias reforçadas de coesão e solidez até ao final da legislatura”, conclui.

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