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Cinco ideias táticas e um nome próprio que explicam o apuramento de Portugal

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Diogo Costa.

Ainda que pouco habitual nestas análises, o primeiro destaque tem de ser para Diogo Costa. Porque o jogo pertence aos jogadores e há momentos das individualidade que definem os jogos. Como neste caso com o titular da baliza nacional, que foi fundamental no resultado final: primeiro com uma fantástica intervenção a anular um grande oportunidade e depois defendendo as três grandes penalidades. Enorme!

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1. Eslovénia não mudou nada no seu jogo muito simples e de ataque à profundidade

Aguardava-se com expectativa a estrutura que Portugal iria apresentar para este jogo dos oitavos de final contra a Eslovénia, acabando por apresentar o mesmo onze que usou no jogo contra a Turquia, que tinha sido o que venceu mais confortavelmente.

Apresentou também uma estrutura similar embora com algumas nuances/dinâmicas adaptadas para este jogo.  Esperava-se um registo der jogo similar a outros que a equipa portuguesa tem encontrado, com muita bola e domínio perante um adversário baixo e na expectativa.

Do outro lado, a Eslovénia mostrou um jogo com bola muito simples e fácil de caracterizar. Partia como a equipa com menos posse de bola até este momento, muito porque o seu jogo é baseado num futebol direto para a dupla de avançados, sempre disponíveis para lutar com os centrais pela bola longa. Depois disso, ou toca para movimentos dos alas de ataque à profundidade, ou alimenta o jogo ao centro para disputa da segunda bola.

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Quando os avançados não recebem direto, ficam disponíveis para movimentos de rutura e tentarem receber no espaço. Ambos dão muita luta e trabalho aos centrais adversários normalmente. É um jogo simples, com constante bola direta, luta para segunda bola e ataque rápido à baliza adversária de seguida, com os quatro da frente sempre a ameaçarem a linha defensiva contrária. Procura rápida da profundidade no momento de ganho de bola.

2. Palhinha perto dos centrais para responder ao jogo simples da Eslovénia e mandar no jogo

Portugal preparou-se para este momento colocando Palhinha próximo dos centrais (ou mesmo no meio deles), num primeiro momento em que esperava a bola longa a partir do guarda-redes adversário. Bruno Fernandes e Vitinha encostavam nos médios da Eslovénia e, caso o primeiro passe não fosse longo, Bruno Fernandes saltava logo a pressionar o central com bola e Palinha subia para encostar no médio que tinha ficado livre.

Com isto, a que se juntava a competência dos centrais portugueses para os duelos com os avançados, Portugal foi controlando praticamente o jogo ofensivo adversário todo. Com um ou outro momento de maior luta e sobressalto, mas não permitindo grandes situações e sobretudo mostrando-se quase sempre seguro e cómodo a resolver as situações.  A maior oportunidade eslovena surgiu por isso no prolongamento, num erro de Pepe, resolvido por uma grande defesa de Diogo Costa.

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3. Nuno Mendes mais fixo atrás para permitir uma construção a três

No momento com bola (que foi a maioria do jogo), Portugal teve algumas dinâmicas parecidas com o jogo da Turquia, mas também algumas nuances: sobretudo uma construção mais declarada a três, frente aos dois avançados adversários.

Com Nuno Mendes fixo atrás, juntamente com Pepe e Ruben Dias, a largura era dada sobretudo por Rafael Leão, à esquerda, e Bernardo, à direita, com dinâmicas similares. Palhinha e Vitinha encarregavam-se da construção, sendo que este último tinha liberdade para subir num segundo momento. Cancelo iniciava na direita, mas tinha liberdade de movimentos para o centro. Bruno Fernandes ficava mais alto e mais perto de Ronaldo.

Perante um adversário baixo, em 4x4x2, sem qualquer pressão à construção portuguesa, rapidamente o jogo passou para o meio-campo ofensivo de Portugal. Com muita bola, paciência e muita circulação, mas mais uma vez com menos capacidade no último terço e em furar a recuada muralha defensiva.

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4. Portugal outra vez com pouca capacidade de jogar dentro e desbloquear por fora

Muita gente a vir receber baixo, pouca gente entrelinhas e pouca ameaça à linha defensiva adversária. Rafael Leão e Bernardo recebiam frequentemente a bola muito baixos no campo e com pouca capacidade de desbloquear por fora. Mais uma vez houve muita posse segura, mas por trás e pelos lados.

Ainda assim, Portugal criou alguns momentos de perigo sobre a área adversária, sobretudo através de cruzamentos (muitos cruzamentos de segunda linha, procurando essencialmente o segundo poste, tendo como referência Ronaldo). Várias situações destas com perigo, mas sem muita eficácia mais uma vez, e muitas vezes com pouca presença na área. 

O futebol de Portugal foi por isso num registo próximo do que já tinha feito antes, mas mudou no fim da primeira parte, com o jogo a ficar partido e com mais espaço. Houve menos domínio com bola da equipa portuguesa, os adversários conseguiram, com o tal futebol direto, crescer um pouco no campo e o jogo partiu-se.

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Neste momento Portugal usou o espaço (adversário mais alto) para ataques rápidos, momento em que apareceu mais Rafael Leão. Usando a velocidade e condução, conseguiu mais momentos de desestabilização da linha defensiva eslovena. Foi nesta altura que conseguiu tirar amarelos aos defesas. Portugal tinha então muitos cantos e livres, mas sem situações muito claraspara criar perigo.

5. Segunda parte com Nuno Mendes mais solto, Cancelo mais por fora e ruturas mais frequentes

Com o intervalo surgiram mudanças nas dinâmicas. Nuno Mendes deixou de estar fixo na construção a três, ficou mais aberto e subido e começou com o tempo a envolver-se mais pelo corredor, a combinar com o ala e a chegar a zonas mais avançadas.

A construção passou a ser mais para Pepe e Ruben Dias (que subia mais com bola pela direita). Na direita, de resto, surgiram mais dinâmicas que permitiram mais situações de perigo: Cancelo surgiu mais vezes por fora, a combinar mais com Bernardo, e este corredor finalmente funcionou no último terço para criação.

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Cancelo fez ruturas para chegar mais à frente, Bernardo teve mais bola e mais espaço, fruto da variação mais rápida, o que permitiu impor mais velocidade neste corredor. 

Com mais acutilância na frente, o treinador mexeu para dar frescura a estas dinâmicas. Jota entrou para jogar mais próximo de Ronaldo, o que obrigou Bruno Fernandes a baixar um pouco no campo, e Francisco Conceição entrou para a direita, mas mudou depois para a esquerda (trocou de lado com Bernardo no prolongamento).

Portugal tentava carregar, ia desestabilizando mais o seu adversário, mas sem conseguir marcar, mesmo tentando impor o seu jogo até ao fim, fiel ao seu estilo para chegar ao golo. Não chegou e o apuramento acabou por se decidir nas grandes penalidades, que relevaram um herói.

Diogo Costa, claro. Porque o jogo pertence aos jogadores.

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