Mais de 850 mil pessoas já foram assediadas moralmente no emprego e cerca de 650 mil foram vítimas de assédio sexual, revela um estudo, que mostra que as mulheres são as principais vítimas e os chefes os principais abusadores.
PUB
Os dados resultam do projeto de pesquisa “Assédio Sexual e Moral no Local de Trabalho em Portugal”, desenvolvido pelo Centro Interdisciplinar de Estudos de Género (CIEG), do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), e da responsabilidade da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE).
De acordo com os dados preliminares, resultado de 1.801 entrevistas, 16,5% da população ativa em Portugal já sofreu, pelo menos uma vez durante a sua vida profissional, uma forma de assédio moral no trabalho.
Quer isto dizer que, possivelmente, 856.350 pessoas já foram vítimas de assédio moral, dado que, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), a população ativa nacional chegava às 5.190.000 pessoas no primeiro trimestre de 2015.
Por outro lado, o estudo aponta para que 12,6% da população ativa já tenha sofrido, pelo menos uma vez, um episódio de assédio sexual no local de trabalho, o que pode representar 653.940 pessoas.
“Há de facto, no mercado de trabalho, um conjunto de práticas que no fundo atentam contra a dignidade das pessoas”, apontou a coordenadora do estudo.
PUB
“Importa não negligenciar que os homens também são vítimas destas formas de assédio no local de trabalho, sendo mais frequente serem vítimas de assédio moral (15,8%) do que sexual (8,6%) ”, lê-se no estudo a que a Lusa teve acesso.
Já no que diz respeito aos agressores, tanto homens como mulheres revelaram ter sido assediados sobretudo pelo superior hierárquico ou chefe direto e só depois por um colega.
Tanto para homens (38,2%) como para mulheres (41,8%), a situação mais marcante ao nível da forma de assédio moral mais frequente é “ser sistematicamente alvo de situações de stress com o objetivo de levar ao descontrolo”, aparecendo em segundo lugar a desvalorização sistemática do trabalho (homens 27%, mulheres 31,3%).
“Homens (83,1%) e mulheres (82,2%) são, fundamentalmente, assediados moralmente pelos patrões, superiores hierárquicos e chefes diretos”, refere o estudo.
Já os homens queixam-se das perguntas intrusivas ou ofensivas sobre a sua vida privada (22,9%), mas também das piadas sobre o aspeto ou olhares insinuantes que o fazem sentir ofendido (14,6%).
PUB
Também nos casos de assédio sexual, os agressores são sobretudo os superiores hierárquicos ou o chefe direto (homens 33,3%, mulheres 44,7%), aparecendo depois os colegas (homens 31,3%, mulheres 26,8%).
“A percentagem de homens que é assediado sexualmente é pequena, mas também existe e são maioritariamente assediados por mulheres, 65%, mas 35% também são assediados por outros homens”, refere Anália Torres.
Os resultados finais do estudo são apresentados quarta-feira, no âmbito de um seminário internacional, que decorre no ISCSP, em Lisboa.
Uma lei sobre o assédio no trabalho
A coordenadora do estudo sobre assédio sexual e moral no local de trabalho defendeu que é fundamental haver uma lei específica para estes casos, justificando que isso ajudaria a aplicar a legislação de forma mais célere.
Em declarações à agência Lusa, Anália Torres apontou que “é fundamental que se faça uma lei específica” para tratar os casos de assédio sexual e moral no local de trabalho.
PUB
“Na minha perspetiva era muito importante que isto fosse feito porque clarificava e permitia ao aplicador da lei uma aplicação mais célere”, defendeu a investigadora.
“Pode ser que fazendo um grande esforço em indo buscar um bocado ali, outro bocado da lei acolá se possa encontrar uma moldura penal que possa incluir o assédio sexual ou o assédio moral, mas é muito mais claro se houver uma lei específica sobre isto porque nós sabemos que os juízes têm muitas vezes dificuldade em aplicar ainda mais quando a lei está dispersa”, apontou.
PUB