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Perder a vida a atravessar a rua

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São vias com autênticas armadilhas para os peões. E nem o facto de estarem numa passadeira os salva. Os números são negros e há quem aponte o dedo às autarquias. Os condutores também não estão isentos de culpa. Nos últimos dias os casos sucederam-se e a ironia é inevitável: «Peões não deviam sair à rua. Podem ser atropelados»

Os portugueses conduzem mal, são pouco civilizados na estrada (quer como condutores quer como peões), o ordenamento urbanístico é mal feito, as passadeiras estão mal assinaladas e há vias onde a velocidade permitida devia ser menor. Estas são algumas das razões que podem explicar os números negros dos atropelamentos em Portugal.

O PortugalDiário ouviu a Associação de Cidadão Auto-Mobilizados, o presidente do Automóvel Clube de Portugal e um professor de engenharia civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto para tentar encontrar uma razão para aquilo que o escritor Rui Zink classificou como «uma injustiça lamentável».

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«O que me chateia é termos razão. Apenas defendemos que as pessoas têm direito à vida», explica Manuel João Ramos, da ACA-M. Esta associação lamenta que as vias rápidas em Lisboa tenham sido transformadas em avenidas. Ter avenidas, como por exemplo a de Ceuta, e, ao mesmo tempo, dois bairros sociais ao lado, «não faz sentido e os autarcas anteriores têm de ser responsabilizados».

E como está provado que as pessoas não usam as passagens superiores e inferiores, a ACA-M não tem dúvidas ao defender a diminuição da velocidade nas vias rápidas transformadas em avenidas. «As pessoas não são números. É a destruição da vida urbana com a febre dos automóveis e as cidades não têm de ser assim», afirma Manuel João Ramos.

Professor de engenharia civil na FEUP, Carlos Rodrigues explica que a ideia fundamental que transmite aos futuros engenheiros é que o peão é fundamental e deve estar integrado na construção de qualquer via. Nota, no entanto, que em alguns cidades é o «automóvel que manda».

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«Muitas vezes fazem-se estradas, mas depois constrói-se ao lado e aquilo que devia ser uma rua residencial, continua a ser uma estrada», acrescenta o professor. Mas há soluções: «Lombas nas vias mais residenciais e semáforos e passagens desniveladas nas vias de escoamento de tráfego».

Mais sinais luminosos

O presidente do ACP, Carlos Barbosa, também faz críticas a quem concebe as vias rápidas, mas o grande problema em Portugal, afirma, é que se conduz muito mal. «As pessoas vão para as escolas de condução tirar a carta e não aprendem a guiar».

A falta de civismo na estrada, diz Carlos Barbosa, também não deve ser esquecida, mas também há a questão das passadeiras que «estão mal sinalizadas, devia haver sinais indicativos luminosos, como existe em Londres e em Paris. Aqui, muitas vezes o condutor não se apercebe».

Passadeira humana

Esta semana cerca de 50 pessoas participaram numa homenagem, promovida pela ACA-M, às vítimas do triplo atropelamento ocorrido sexta-feira passada frente à estação fluvial do Terreiro do Paço, em Lisboa.

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A organização quis alertar para os perigos no local através de uma «passadeira humana», com a colocação de lençóis brancos. O funeral de uma das vítimas realiza-se esta quinta-feira de manhã na Baixa da Banheira.

A «Câmara Municipal de Lisboa, o Metropolitano de Lisboa e o empreiteiro da obra do Metro [no Terreiro do Paço] devem reconhecer a sua quota-parte de responsabilidade neste acidente», defendeu Rui Zink.

A ACA-M alerta para o curto tempo de abertura de semáforos para peões, para uma passadeira que termina a meio da estrada e para outra que tem um bloquedor de cimento na extremidade. A associação critica ainda o facto de a curva ter uma inclinação contrária ao aconselhado, a ausência de baías para protecção dos peões e para o pavimento deformado da via.

Ironizando e falando também do atropelamento que causou a morte de um menino de seis anos, Zink afirmou que «o problema existe porque existem pessoas a pé» e que os peões «não deviam sair à rua, porque podem ser atropelados».

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