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O <i>portunhol</i> é uma língua?

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Artigo publicado em jornal brasileiro está a causar polémica

Um artigo em portunhol, sobre a mistura do português e do espanhol, publicado num dos maiores jornais do Brasil, causou polémica entre especialistas brasileiros de língua portuguesa.

Com o título «Hablando sério», a notícia, que ocupa uma página inteira do caderno «Aliás», do Estadão do último domingo, refere-se a um encontro em Dezembro do ano passado, na embaixada do Brasil em Assunção, de escritores brasileiros e paraguaios que se uniram numa missão no mínimo inusitada: legitimar o portunhol.

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«Usted, caro leitor, conocerá em primera mano o marco zero del movimiento, em la primeira reportaje escrita em portunhol nos 133 años de Estadón. Foi em dezembro. Em Asunción, por supuesto», diz a crónica assinada pelo jornalista e escritor Ronaldo Bressane.

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Segundo o jornalista, o portunhol selvagem, uma mistura de guarani, português e espanhol, falado por pessoas simples em áreas fronteiriças, é ideia de um carioca na faixa etária dos 40, o poeta Douglas Diegues, que vive desde os cinco anos em Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai.

Num dos livros em portunhol de Douglas Diegues, o poeta escreve: «U portunhol salvaje es la língua falada en la frontera du Brasil com u Paraguai por la gente simples que increiblemente sobrevive de teimosia, brisa, amor al imposible, mandioca, vento y carne de vaca».

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«Es la lengua de las putas que de noite vendem seus sexos en la linha de la fronteira. Brota como flor de la bosta de las vakas. Es una lengua bizarra, transfronteriza, rupestre, feia, bella, diferente. Pero tiene una graça salvaje que impacta», continua o poema.

Na opinião da professora de Língua Portuguesa da Universidade de Brasília (UnB), Wânia Aragão, o portunhol não é e nunca será uma língua.

«A possibilidade é zero de o portunhol virar uma língua. É uma tentativa inócua. O portunhol é um código de sobrevivência e de comercialização nas regiões fronteiriças que sempre existiu. A notícia é curiosa, mas não aprovo o facto de ter sido escrita em portunhol», disse a especialista à Agência Lusa.

A doutora em Língua Portuguesa disse não ser contra o portunhol, mas considerou a matéria do Estadão um «desserviço», porque o portunhol é uma modalidade falada e não poderia ser escrita.

«Quando um jornal publica uma matéria em portunhol, isso é tomado como um aval», advertiu.

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Na avaliação de Wânia Aragão, o português será uma das dez línguas que sobreviverão no mundo globalizado por ter 230 milhões de usuários.

Já o linguista Hildo Couto, também professor da UnB, considera a matéria escrita em portunhol interessante e curiosa.

«Não julgamos o que estudamos. Como linguista, a nossa ideia é de que não deve haver monitoramento. Vemos a matéria como curiosidade, mas o portunhol, não vai se cristalizar nem nunca será uma língua independente. Vai continuar a ser algo folclórico», afirmou à Lusa.

A escritora Guiomar de Grammont acredita que o Brasil incorporará cada vez mais palavras espanholas no seu léxico, do mesmo modo que os outros países do Mercosul (Argentina, Uruguai, Paraguai e, em processo de adesão, a Venezuela) também utilizarão mais palavras em português.

«Apesar disso, o portunhol jamais será uma terceira língua. Será sempre um linguajar local, que é quase dialetal», salientou a escritora brasileira à Lusa.

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