Já fez LIKE no TVI Notícias?

Amianto: casos de cancro «estão a aumentar»

Relacionados

Especialista diz que está a operar pelo menos um caso por mês

O pneumologista da Fundação Champalimaud falava aos jornalistas à margem de uma ação de sensibilização organizada pela Quercus em Lisboa e que contemplou um seminário com especialistas de várias áreas e a apresentação de um «mini-estaleiro» com os equipamentos utilizados para retirar o amianto, substância utilizada na construção, há alguns anos, mas depois proibida por se ter comprovado que a sua inalação pode causar cancro do pulmão. Além de retirar o amianto dos edifícios, o especialista defendeu que «as pessoas que estiveram expostas deviam fazer alguns exames, como uma TAC» (tomografia axial computorizada). Por outro lado, um responsável da Interamianto afirmou que existem dezenas de empresas a remover amianto dos edifícios, sem certificação e com trabalhadores sem formação, e salientou já ter retirado a substância de comboios, barcos e hotéis. Rui Silva referiu que a Interamianto já foi contactada por multinacionais, alguns edifícios públicos, mas essencialmente pela indústria, área em que «existe muito mais amianto», e exemplificou com os casos de centrais termoelétricas desativadas, de instalações de petroquímicas, havendo ainda, entre os clientes da empresa, algumas embaixadas.

PUB

Um especialista em pneumologia afirmou hoje que o número de casos de cancro relacionado com exposição a amianto está a aumentar e defendeu a necessidade de quem esteve exposto realizar exames médicos para diagnosticar a doença em fases precoces.

«É uma situação muito complicada, atualmente ainda é um tumor com uma incidência relativamente baixa, mas está aumentar, tem um período de crescimento entre os 20 e os 30 anos» e, se o auge da utilização de amianto na construção civil e naval foi nos anos 70 e 80, «é agora que está a aparecer massivamente e continuará a aumentar progressivamente», disse Jorge Cruz.

Jorge Cruz explicou que «uma das coisas que [o amianto] provoca são tumores nas vias aéreas, nomeadamente o cancro do pulmão, mas principalmente o mesotelioma, um tumor maligno, altamente agressivo, em que está provado completamente a relação direta entre exposição ao amianto e aparecimento do tumor».

Em Portugal, em 2011 o número de casos daquele cancro «andava à volta dos 50», mas «estou convencido, até pela minha experiência pessoal, [pois] estou a operar muitos mais casos, que a sua incidência está a aumentar», salientou o especialista.

PUB

«Há três ou quatro anos, raramente me aparecia um mesotelioma para operar e este ano já operei dois ou três, quase uma média de um por mês», especificou o pneumologista.

É que, como na maioria das doenças oncológicas, «se conseguir diagnosticar-se e operar doentes numa fase menos avançada, é possível que consigamos alterar com algum significado a sobrevida destes doentes», explicou.

A Quercus tem insistido com o Governo para apresentar uma lista com todos os edifícios públicos com amianto, desde escolas a hospitais ou bibliotecas, assim como um plano de retirada de materiais com a substância, começando por aqueles mais urgentes, ou seja, em que se verifica degradação da construção e risco de libertação de partículas.

Desde a publicação de uma lista de edifícios públicos, em junho, «pouco ou nada se evoluiu, e aquela lista não é um levantamento, é uma sinalização dos edifícios que provavelmente têm amianto», disse à agência Lusa Carmen Lima.

PUB

Carmen Lima insistiu que o ponto importante de um levantamento é «conseguir confirmar-se a existência do amianto, verificar-se o estado em que estão os materiais com amianto, qual o impacto para as pessoas e se existem efetivamente pessoas expostas».

A ambientalista referiu que «haverá certamente amianto em edifícios privados utilizados como escritórios» mas também em áreas de lazer, como teatros, ou «edifícios utilizados como habitação».

Não existe um enquadramento legislativo a obrigar a remoção desses materiais nos edifícios privados de habitação, ao contrário das construções usadas para trabalho, em que existe a obrigatoriedade de os empregadores protegerem os seus funcionários do risco da exposição ao amianto.

«Há dezenas de empresas a remover amianto sem certificação»

O diretor técnico da Interamianto, Rui Silva, responsável da única empresa que em Portugal está certificada para remover aquela substância utilizada na construção, disse que «o problema do amianto é muito grave» no país e «continua a não haver forma de certificar empresas».

PUB

Rui Silva falou aos jornalistas à margem da iniciativa realizada pela Quercus.

A empresa obteve o reconhecimento para trabalhar nesta área na Alemanha e Luxemburgo, já que «o problema em Portugal continua a ser a certificação das empresas», embora na legislação esteja prevista a existência de certificados, frisou, evocando que a Autoridade das Condições para o Trabalho (ACT) somente «faz processos administrativos».

Este responsável apontou «as barbaridades feitas na remoção do amianto, como homens a trabalhar com máscaras de papel, homens que usam o mesmo fato durante 15 dias, quando devia ser trocado de duas em duas horas, empresas que não trabalham com equipamentos» adequados.

O diretor da empresa questionou-se como é que «existem em Portugal dezenas de empresas a remover amianto, nomeadamente fibrocimento, sem certificação alguma?»

«Não vamos conseguir cumprir as metas da União Europeia de erradicar o amianto completamente em 2032, é completamente impossível. Já removi amianto em comboios, barcos, refinarias, em hotéis, onde se usava muito como proteção e isolamento térmico e acústico e ainda há muito hotéis em Portugal com amianto projetado, tal como hospitais»

PUB

Em Portugal, a Interamianto já fez mais de 700 trabalhos de remoção de amianto nos últimos 10 anos, avançou. A substância era recorrentemente usada na construção civil, até se ter associado a inalação das suas partículas ao aparecimento de cancro.

O bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos, explicou que a presença de amianto é mais preocupante quando os edifícios começam a ficar mais velhos, pois «o material começa a deteriorar-se as fibras libertam-se e se forem respiradas afetam o sistema respiratório».

Questionado acerca da preparação dos profissionais para lidar com a situação, respondeu que «os técnicos se formam em função das necessidades, não em termos abstratos que se forma seja quem for», mas o país «tem capacidade para avaliar, com a tecnicidade possível, todas as situações para poder atuar em conformidade».

O bastonário salientou haver muito desconhecimento sobre amianto por parte do público em geral, o que «é preocupante porque não são só os edifícios públicos que estão em causa, são também os particulares», e os proprietários podem não ter o conhecimento suficiente para avaliar a situação.

 

PUB

Relacionados

Últimas