O espaço, cedido pela Cruz Vermelha, é de total liberdade: ali podem recordar o filho que partiu, contarem porque deixaram a cama feita durante um ano ou como escrevem sem se cansarem - nada é recriminado; todos já passaram pelo mesmo.
A associação tem pólos espalhados pelo país - vai vivendo das quotas dos sócios e de algumas ajudas das autarquias - e além das reuniões supervisionadas por um psicólogo e por uma mãe em luto, que já fez a sua «caminhada», oferece ainda atendimento individual, ajuda telefónica e online.
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Há mais de uma década anos, tudo começou com duas mães que se juntaram para fazer o luto da morte dos seus filhos, num encontro sugerido por um psiquiatra. A esse encontro outros se seguiram até que foi preciso criar uma linha telefónica para atender os telefonemas de quem procurava ajuda.
[veja aqui a reportagem em vídeo]Estão distribuídos em forma de círculo. Um maço de cartões vai passando contra o sentido dos ponteiros do relógio: cada papel tem uma palavra; e é sobre essa palavra que a conversa começa, com o sol a entrar pela sala cheia de janelas.
A moderadora, Emília Agostinho, fala pouco, vai gerindo o tempo e as emoções dos pais que vêem estes encontros «como um balão de oxigénio» para passar o resto do mês, até à próxima reunião. A sessão começa oficialmente com uma oração, mas é quando a palavra «Revolta» surge escrita num cartão que o encontro se inicia verdadeiramente.
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Há choro, há dor, há revolta, mas há também compaixão e entendimento naquela sala que transborda de saudade. «Com o tempo não dói tanto», garante quem já por passou por um luto recente. «A meta é a serenidade», a outra palavra de um cartão que saiu ao vizinho do lado.
Para quem viu o filho partir há meses, não há «aceitação»: há apenas a sensação de injustiça, mas a consciência de que, com esta «caminhada», tudo vai mudando; e estas reuniões, a par de terapia com psiquiatras ou psicólogos, são uma ajuda valiosa para fugir ao suicídio com que muitos médicos se deparam nestes casos de pais em luto. Foi assim que a associação nasceu - da iniciativa de um psiquiatra que juntou duas mães - e é assim que continua, permitindo que os pais continuem a falar do filho.
Por que isso nunca muda. Todos contam que amigos, colegas de trabalho, e até os familiares deixam de perguntar ou de recordar os aniversários ou as façanhas atléticas de quem já não está cá. «Mas eu quero falar do meu filho. Por que é que as pessoas evitam o tema?», questiona uma mãe. «Às vezes até mudam de passeio, só para não me encarar».
«Falta uma educação para a morte», bem visível na forma como se «esconde das crianças» que um familiar morreu ou «como o pessoal de enfermagem, bombeiros ou polícias dão a notícia aos pais», explica Emília Agostinho, revelando ao PortugalDiário que a associação dá formação a estas profissões.
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