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Abandonados nas urgências

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Todos os dias entram no Hospital Amadora-Sintra pelo menos 13 doentes a precisarem de apoio social. Uma média de três idosos é «largado» e não tem para onde ir. Familiares atiram responsabilidade de cuidados para o Estado

O abandono e falta de apoio a idosos está a crescer. Os casos que chegam às urgências multiplicam-se e lançam o alerta para um Portugal velho, isolado e só. Também nos centros urbanos. Pais, mães ou avós são «largados» nos hospitais à espera que alguém os venha buscar. E quem sabe, dar os cuidados de que precisam.

O apoio social é cada vez mais uma valência que as urgências dos hospitais têm de ter. Um doente não tem apenas um problema de saúde, tem também o problema de alta clínica. Para onde ir quando as famílias não têm como receber e tratar os familiares? Ficar no hospital à espera de encaminhamento para lares é uma das respostas, mas não a melhor.

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No ano passado e apenas no hospital Fernando da Fonseca, na Amadora, foram registados 300 casos de «utentes isolados», isto é, sem família referenciada. «São sozinhos e não têm a quem recorrer», explicou ao PortugalDiário Cláudia Simões, assistente social do serviço de urgência. A estes juntam-se cerca de 500 doentes que ou, têm família mas não têm apoio, ou não têm recursos económicos para subsistir sozinhos.

O Presidente da Comissão Executiva do hospital, Rui Raposo, explicou, no âmbito das II Jornadas do Serviço Social, que «anualmente são pagos mais de 200 mil euros em lares e camas sociais externas ao hospital para suprir a necessidade de encaminhamento de pessoas idosas que, com alta clínica, não têm onde ficar após o período de internamento».

«Nunca até hoje qualquer organismo se mostrou disponível para nos ressarcir dessa verba mas, com uma média diária de 13 doentes a necessitar de apoio social, a única alternativa que temos para lhes garantir um pós-internamento em segurança é continuarmos a assumir aquele encargo», acrescentou.

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«Eu não tenho que tratar do meu pai»

O director da Urgência Geral do Amadora-Sintra, Luís Cuña, explicou o que se passa entre pais e filhos. «Ouve-se filhos a dizer: «eu não tenho que cuidar do meu pai». A ideia que ainda subsiste é que o Estado tem a obrigação de responder à carência do idoso provocada pela nova doença. Empurra-se para o hospital, para os serviços sociais, para o Estado. No entanto, em muitos casos as melhores soluções estão na família».

Os parentes são os primeiros que podem ajudar mas nem sempre há condições. «Há muitas carências. Os familiares têm empregos que não podem largar, muitos trabalham por turnos e não têm dinheiro para medicamentos e lares», esclareceu Cláudia Simões.

Por vezes existe apoio familiar mas acaba por ser ineficaz. «As casas não têm condições e pôr o pai a dormir no sofá não corresponde aos cuidados necessários. Um idoso de 80 anos a morar num 4º andar sem elevador terá sempre uma alta complicada. É preciso por as pessoas a falar sobre o assunto e pressionar as famílias», explicou o director da Urgência.

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