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Cancro e sida: duas doenças em que o diagnóstico ainda chega tarde

Estado precisa de adotar medidas «urgentes e adequadas» no campo da prevenção oncológica, adverte a Liga Portuguesa Contra o Cancro. Já o Núcleo de Estudos da Infeção ao VIH alerta que os diagnósticos tardios comprometem não só a eficácia dos tratamentos como a própria incidência da infeção

Vítor Veloso falava à Lusa a propósito do II Congresso Nacional de prevenção Oncológica e Direitos dos Doentes que se realiza na sexta-feira e no sábado, no Porto. Segundo a LPCC, os maus hábitos de vida como o álcool e o tabaco, a sedentarização, uma má alimentação e obesidade e o mau uso do sol agravam o risco de cancro. Se estes comportamentos fossem evitados conseguia-se evitar o cancro em 80% dos casos. Portugal é o terceiro país da União Europeia com maior taxa de casos de sida, quer em termos de prevalência, quer em termos de incidência, segundo dados divulgados pelo núcleo em comunicado.

A prevenção concológica continua a ser «um elo muito frágil» e grande parte dos cancros no nosso país continuam a ser detetados tardiamente, segundo a Liga Portuguesa Contra o Cancro. O mesmo acontece, por outro lado, com o vírus da sida. 

Quanto ao cancro, o Estado precisa de adotar medidas «urgentes e adequadas» no campo da prevenção primária e secundária, defendeu à agência Lusa o presidente da  Liga Portuguesa Contra o Cancro/Norte 

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«É necessário que o estado compreenda que embora este tipo de prevenção seja, sob o ponto de vista económico, um pouco pesado inicialmente, esse investimento tem a medio prazo (5/10 anos) uma compensação muito grande em termos económicos, porque é totalmente diferente tratar um doente com cancro inicial do que tratar um doente com cancro avançado». [O doente] além de ter uma sobrevivência muito menor, de não poder ser curado e de ter má qualidade de vida, vai gastar ao erário público o triplo, o quadruplo ou o quíntuplo do que um cancro inicial”.

Em relação aos resultados dos rastreios de base populacional (prevenção secundária) realizados em Portugal (cancro da mama, cancro do colo do útero e cancro colorretal), Vítor Veloso referiu que em relação ao cancro do colo do útero, «no norte e sul esse rastreio praticamente não funciona, na medida em que são rastreios oportunísticos, que não têm estrutura, qualidade e, nesse sentido, ainda não são, de maneira nenhuma, consequentes. o mesmo sucede em relação ao cancro do colon e reto».

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«Espero que estas situações sejam ultrapassadas e que os rastreios que estão atribuídos às respetivas Administrações Regionais de Saúde ultrapassem as barreiras e comecem a funcionar com qualidade e com as respetivas estruturas».

No que se refere ao rastreio do cancro da mama, realizado pela LPCC, Vítor Veloso afirmou que «no centro está praticamente concluído e, no norte, cerca de 80 por cento da população já está coberta». «Esperamos que no próximo ano tenhamos já a população de todo o norte também completamente rastreada. No sul há grandes áreas que não estão cobertas, não por culpa da liga, mas por culpa de outras situações que correspondem muitas vezes a interesses instalados», afirmou.

Outro dos assuntos que estará em análise no congresso serão os direitos dos doentes oncológicos e sobreviventes de cancro. Segundo o responsável, a legislação em vigor no nosso país encontra-se dispersa por diversos decretos-Lei, portarias e normas de orientação, «facto que impossibilita os doentes de terem um conhecimento adequado e, em tempo útil, dos seus direitos nos mais diversos aspetos e sectores».

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«Esta situação permite que os doentes oncológicos sistematicamente sofram atropelos por parte das diferentes entidades de saúde, as quais sistematicamente informam, não conhecer ou não terem indicações relativas aos direitos legais dos doentes», nomeadamente no que se refere ao pagamento de taxas moderadoras.

É por esse motivo que Vítor Veloso insiste na necessidade de «implementar planos de educação estruturados nas escolas e na comunidade em geral de estilos de vida saudáveis. Informar a população e sensibilizá-las para os comportamentos de risco. Depois deste primeiro grande passo, deveriam criar-se estruturas que permitissem um rastreio abrangente, dirigido e de diagnóstico precoce da doença».

A Organização Mundial de Saúde prevê, caso não sejam adotadas medidas urgentes e adequadas no campo da prevenção primária e secundária, um aumento de 50% de novos casos de cancro nos próximos 20 anos. Segundo a LPCC, em Portugal são diagnosticados anualmente 55 mil novos casos de cancro aumentando gradualmente nos últimos anos. A taxa de sobrevivência dos doentes ronda os 55% (doença controlada há pelo menos 10 anos). É já considerado o principal problema de saúde pública, sendo cada vez mais encarado como uma doença crónica.

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VIH: 60 % dos diagnósticos detetados tardiamente

Já no que toca ao vírus da sida, também esta quinta-feira o Núcleo de Estudos da Infeção ao VIH alertou para o grande número de diagnósticos de VIH são realizados tardiamente, o que compromete a eficácia dos tratamentos, o bem-estar dos doentes e a «própria incidência da infeção».

«A epidemia em Portugal afeta as populações com comportamentos particularmente vulneráveis. Neste contexto, a percentagem de infetados ultrapassa os 5%. Por outro lado, a percentagem de diagnósticos tardios chegam a ser superiores a 60%, o dobro da média europeia»

Telo Faria apontou como explicações para estes números a organização dos serviços de saúde, a ausência de campanhas dirigidas a grupos de populações com vulnerabilidades particulares e a fatores de ordem socioculturais complexos. Apesar destes números, o especialista afirmou que tem havido um esforço nos últimos anos, para inverter esta situação.

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A infeção por Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) afeta diversos grupos sociais, mas, nos últimos anos, tem-se registado «um número em crescente de idosos infetados». Esta situação deve-se ao facto de a «infeção ser uma doença com características de cronicidade, que permite aos doentes viverem bem e durante mais anos».

Mas a elevada incidência do vírus neste grupo social também se deve ao facto de os idosos adquirirem fármacos para tratamento da disfunção eréctil, o que permite que «retomem a vida sexual, sendo assim potenciais infetados e agentes infetáveis, se tiverem comportamentos sexuais de risco».

Apesar da atual crise político-económica, Telo Faria considerou que é possível investir na prevenção da doença e deixa conselhos para uma melhor atuação nesta área, como o «reforço de ações de educação, informação e prevenção em meio escolar e respetiva articulação com a saúde escolar».

Propôs também a realização de programas direcionados para grupos vulneráveis em articulação com as organizações não-governamentais e «a implementação e reorganização de uma rede de deteção precoce da infeção, com testes rápidos nas unidades de saúde».

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Em Portugal, a prevalência da infeção por VIH é de um infetado em 140 pessoas e, em termos de incidência, é de 13.1 infetados por 100.000 pessoas. Em 2013, registaram-se 1,8 milhões de novas infeções por VIH e cerca de 1,3 milhões de mortes em todo o mundo.

O alerta do Núcleo de Estudos da Infeção ao VIH (NEVIH) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna surge no âmbito do Dia Mundial da Sida, que se assinala a 01 de dezembro, e visa incentivar a aplicação de medidas de prevenção e diagnóstico precoce.

   

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