Os titulares dos contratos de crédito à habitação que serão revistos em maio vão sentir uma diminuição da prestação a pagar ao banco que, nalguns casos, poderá mesmo ultrapassar os 30 euros. Uma situação que decorre do facto de em abril as taxas Euribor terem registado uma diminuição em todos os prazos face ao valor médio de março, algo que já não acontecia desde o início do ano.
No final de 2023, perante a expectativa de descida de taxas de juro por parte do Banco Central Europeu (BCE), as taxas Euribor desceram entre novembro e dezembro em todos os prazos, um movimento que se repetiu entre janeiro e dezembro. Na altura, a expectativa era a de que a instituição liderada por Christine Lagarde poderia cortar as taxas diretoras no final do primeiro trimestre, algo que não viria, no entanto, a acontecer, deixando dúvidas sobre qual o momento em que se iniciaria a descida de juros na zona euro. O reflexo dessa incerteza levou a que as taxas Euribor interrompessem o movimento de descida, não impedindo, no entanto, que se começassem a sentir os primeiros sinais de alívio nas prestações a pagar ao banco.
Agora, com a expectativa de que o BCE vai mesmo começar a descer taxas de juro em junho, as várias Euribor voltaram a recuar.
Aliás, desde que a autoridade monetária da zona euro iniciou o atual ciclo de subida de taxas de juro, em meados de 2022, colocando-as ao nível mais alto de sempre, nunca como agora parece haver tanta certeza de que o primeiro corte deverá acontecer na próxima reunião, a realizar a 6 de junho em Frankfurt, na Alemanha.
Numa sondagem realizada pela agência Reuters, entre 15 e 22 de abril, dos 97 economistas que participaram, 91 afirmaram que o BCE iria reduzir a taxa de depósito, atualmente nos 4,00%, para 3,75% em junho. “Só uma grande deceção com os dados salariais poderá fazer descarrilar um corte em junho - o que é muito improvável", disse à Reuters o economista Bas van Geffen, do Rabobank.
Lagarde tem afirmado que as decisões do BCE estão sempre dependentes de dados económicos, nomeadamente os que dizem respeito à inflação, crescimento económico e à evolução dos salários devido ao efeito que estes poderão ter no crescimento dos preços. E até à reunião de junho o BCE terá vários dados para analisar. Já hoje, terça-feira, será conhecida a estimativa rápida para a inflação na zona euro referente a abril bem como os dados preliminares de crescimento económico referentes ao primeiro trimestre do ano. Em maio serão conhecidos os dados do crescimento dos salários na zona euro referentes ao primeiro trimestre de 2024 e no último dia do próximo mês será ainda conhecido o valor da inflação referente a maio.
Os titulares de contratos de crédito à habitação cuja revisão ocorra em maio não terão, no entanto, de esperar pela decisão do BCE para começarem a sentir o efeito da provável descida de juros.
Segundo as simulações feitas pela CNN Portugal com base no simulador do Banco de Portugal, é possível verificar que haverá uma diminuição da prestação a pagar aos bancos.
Num contrato de 150 mil euros, a 30 anos, com um spread (margem do banco) de 1%, indexado à Euribor 6 meses, a descida da prestação a pagar ao banco deverá mesmo ultrapassar ligeiramente os 30 euros. A taxa média de abril da Euribor 6 meses, que servirá de base a esta revisão fixou-se nos 3,84%, um valor que compara com a taxa de 4,115% referente a outubro de 2023, que serviu de base à última revisão de contrato, em novembro. Para além da descida verificada na taxa de juro que serve de indexante, entre uma data e a outra houve também uma diminuição do valor do capital em dívida e são estes dois efeitos conjugados que permitem uma redução da prestação a pagar ao banco de 30,57 euros.
Quanto já aumentou e como vai evoluir em maio a prestação da casa
Empréstimo a 30 anos com spread de 1% || Euribor de abril apenas com valores até dia 29
EURIBOR A 3 MESES
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EURIBOR A 6 MESES
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EURIBOR A 12 MESES
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Apesar da descida que se verificará na prestação a pagar ao banco em maio, os encargos a suportar com a generalidade dos contratos de crédito à habitação ainda se encontram em valores superiores aos verificados há um ano. E caso se faça uma comparação com os valores praticados há dois anos, antes do início do ciclo de subida de taxas de juro por parte do BCE, a diferença é ainda mais significativa.
Usando o mesmo exemplo, de um crédito de 150 mil euros, a 30 anos, com um spread de 1%, indexado à Euribor 6 meses, a prestação a pagar em maio de 2022 era de apenas de cerca de 460 euros, um valor bem abaixo dos quase 780 euros a pagar em maior de 2024. Uma diferença que resulta do facto de em abril de 2023 a média da Euribor 6 meses ter registado um valor negativo de -0,311%.
NOTA 1 | O que são as taxas Euribor
Euribor é a abreviatura de Euro Interbank Offered Rate. As taxas Euribor baseiam-se nas taxas de juro que um conjunto de bancos europeus está disposto a pagar para emprestar dinheiro uns aos outros. No cálculo, os 15% mais altos e mais baixos de todas as cotações recolhidas são eliminados. As restantes taxas são calculadas como média e arredondadas a três casas decimais. O valor das taxas Euribor é determinado e publicado diariamente. Existem cinco taxas Euribor diferentes, todas com diferentes maturidades (uma semana, um mês, três meses, seis meses e 12 meses).
NOTA 2 | O BCE tem três taxas de juro de referência:
- A taxa das principais operações de refinanciamento, sob a qual os bancos podem contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana: está nos 4,50%, mas esteve fixada em zero entre março de 2016 e julho do ano passado;
- A taxa de depósito, que determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto do BCE: está em 4%. Mas entre julho de 2012 e junho de 2013 era de zero. E entre junho de 2013 e julho do ano passado era negativa, obrigando os bancos a pagar pelos depósitos que faziam no BCE;
- E a taxa de cedência de liquidez, que determina o juro que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do BCE pelo prazo de um dia (overnight). Está atualmente em 4,75%.