O Conselho do Banco Central Europeu (BCE) decidiu hoje aumentar as três taxas de juro diretoras em 50 pontos base e, com base na revisão substancial em alta das perspetivas de inflação, espera aumentá-las ainda mais. As taxas de juro terão ainda de subir significativamente a um ritmo constante para atingir níveis suficientemente restritivos para assegurar um regresso atempado da inflação ao objetivo de 2% a médio prazo”, comunicado do BCE de 15 de dezembro
A ‘sentença’ foi dada na última vez que o Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE) se reuniu, em Frankfurt, na Alemanha, para uma reunião de política monetária. O discurso duro contrastou com uma subida de taxas de apenas 0,5 pontos percentuais, quando as duas subidas anteriores tinham sido de 0,75 pontos.
Mas o efeito, esse, foi imediato nas taxas Euribor e consequentemente em quem tem crédito à habitação. A subida das taxas de juro que servem de indexante aos contratos de crédito já se vinha a fazer sentir desde o início de 2022 quando ainda estavam em terreno negativo. E olhando para as médias mensais das Euribor verifica-se que, mês após mês, a subida foi sempre sendo maior. Foi assim até setembro. A partir deste mês começou a vislumbrar-se uma luz ao fundo do túnel. As taxas Euribor continuaram a subir, mas a subida foi sendo cada vez menor. Uma tendência que, no entanto, a posição dura tomada pelo BCE em dezembro do ano passado veio inverter. Em janeiro deste ano, a média das Euribor, não só aumentou, como aumentou mais que em dezembro.
Para quem tem contratos de crédito à habitação a ser revistos em fevereiro, o efeito far-se-á sentir de forma significativa na próxima prestação a pagar ao banco. Para quem tem, por exemplo, o seu crédito indexado à Euribor a 12 meses, a subida pode ultrapassar os 65% face à prestação que vinha a pagar ao longo dos últimos 12 meses. Num contrato a 30 anos, de 150 mil euros, com um spread de 1%, a diferença é passar de uma prestação de pouco mais de 450 euros para uma prestação de mais de 745 euros. São quase mais 300 euros, um aumento ligeiramente acima dos 65%.
Para quem tem crédito indexado à Euribor a três ou a seis meses, as subidas não serão tão significativas, mas desde fevereiro do ano passado, os detentores destes contratos já tiveram de suportar subidas das prestações mensais ao longo do ano. No caso dos contratos indexados à Euribor a três meses, as subidas no espaço de um ano podem atingir quase 50% e no caso das Euribor a seis meses o aumento ultrapassa os 57%.
Quanto já aumentou e quanto vai subir em fevereiro a pretação da casa
Empréstimo a 30 anos com spread de 1%
EURIBOR 3 MESES
Empréstimo de 25 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 74,14 | |
Maio de 2022 | 75,37 | 1,23 |
Agosto de 2022 | 80,84 | 5,47 |
Novembro de 2022 | 97,85 | 17,01 |
Fevereiro de 2023 | 110,00 | 12,15 |
Aumento anual | 35,9 € | |
Empréstimo de 50 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 148,28 | |
Maio de 2022 | 150,74 | 2,46 |
Agosto de 2022 | 161,67 | 10,93 |
Novembro de 2022 | 195,69 | 34,02 |
Fevereiro de 2023 | 220,00 | 24,31 |
Aumento anual | 71,7 € | |
Empréstimo de 75 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 222,42 | |
Maio de 2022 | 226,11 | 3,69 |
Agosto de 2022 | 242,51 | 16,40 |
Novembro de 2022 | 293,54 | 51,03 |
Fevereiro de 2023 | 330,00 | 36,46 |
Aumento anual | 107,6 € | |
Empréstimo de 100 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 296,57 | |
Maio de 2022 | 301,48 | 4,91 |
Agosto de 2022 | 323,34 | 21,86 |
Novembro de 2022 | 391,39 | 68,05 |
Fevereiro de 2023 | 440,00 | 48,61 |
Aumento anual | 143,4 € | |
Empréstimo de 125 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 370,71 | |
Maio de 2022 | 376,85 | 6,14 |
Agosto de 2022 | 404,18 | 27,33 |
Novembro de 2022 | 489,23 | 85,05 |
Fevereiro de 2023 | 550,00 | 60,77 |
Aumento anual | 179,3 € | |
Empréstimo de 150 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 444,85 | |
Maio de 2022 | 452,21 | 7,36 |
Agosto de 2022 | 485,01 | 32,80 |
Novembro de 2022 | 587,08 | 102,07 |
Fevereiro de 2023 | 660,00 | 72,92 |
Aumento anual | 215,2 € |
EURIBOR 6 MESES
Empréstimo de 25 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 74,5 | |
Agosto de 2022 | 85,88 | 11,38 |
Fevereiro de 2023 | 117,23 | 31,35 |
Aumento num ano | 42,7 € | |
Empréstimo de 50 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 149 | |
Agosto de 2022 | 171,77 | 22,77 |
Fevereiro de 2023 | 234,46 | 62,69 |
Aumento num ano | 85,5 € | |
Empréstimo de 75 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 223,51 | |
Agosto de 2022 | 257,65 | 34,14 |
Fevereiro de 2023 | 351,69 | 94,04 |
Aumento num ano | 128,2 € | |
Empréstimo de 100 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 298,01 | |
Agosto de 2022 | 343,54 | 45,53 |
Fevereiro de 2023 | 468,92 | 125,38 |
Aumento num ano | 170,9 € | |
Empréstimo de 125 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 372,51 | |
Agosto de 2022 | 429,42 | 56,91 |
Fevereiro de 2023 | 586,15 | 156,73 |
Aumento num ano | 213,6 € | |
Empréstimo de 150 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 447,01 | |
Agosto de 2022 | 515,31 | 68,3 |
Fevereiro de 2023 | 703,38 | 188,07 |
Aumento num ano | 256,4 € |
EURIBOR 12 MESES
Empréstimo de 25 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 75,05 | |
Fevereiro de 2023 | 124,2 | |
Aumento num ano | 49,2 € | |
Empréstimo de 50 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 150,1 | |
Fevereiro de 2023 | 248,41 | |
Aumento num ano | 98,3 € | |
Empréstimo de 75 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 225,15 | |
Fevereiro de 2023 | 372,61 | |
Aumento num ano | 147,5 € | |
Empréstimo de 100 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 300,2 | |
Fevereiro de 2023 | 496,81 | |
Aumento num ano | 196,6 € | |
Empréstimo de 125 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 375,25 | |
Fevereiro de 2023 | 621,01 | |
Aumento num ano | 245,8 € | |
Empréstimo de 150 mil euros | ||
Pagava | Aumento | |
Fevereiro de 2022 | 450,3 | |
Fevereiro de 2023 | 745,22 | |
Aumento num ano | 294,9 € |
Subida de juros termina no segundo trimestre
E se é inquestionável que estas subidas das taxas Euribor já têm um forte impacto nos orçamentos de quem tem crédito à habitação, também é verdade que a subida ainda não terminou, até porque, o BCE deverá voltar a subir taxas de juro já na próxima quinta-feira, dia 2 de fevereiro, deverá voltar a fazê-lo em março e, previsivelmente, novamente no segundo trimestre de 2023.
Nota:
O BCE tem três taxas de juro de referência:
- A taxa das operações principais de refinanciamento. A taxa à qual os bancos podem contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana: está atualmente nos 2,5%, mas esteve fixada em zero entre março de 2016 e julho deste ano;
- A taxa de depósito, que determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto do BCE: está atualmente em 2%. Mas entre julho de 2012 e junho de 2013 era de zero. E entre junho de 2013 e julho deste ano era negativa, obrigando os bancos a pagar pelos depósitos que faziam no BCE;
- E a taxa de cedência de liquidez, que determina o juro a que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do BCE pelo prazo de um dia (overnight). Está atualmente em 2,75%.
De um conjunto de 59 analistas consultados pela agência Reuters, 55 disseram que o BCE irá subir a sua taxa de depósitos em 0,5 pontos em fevereiro e deverá proceder a uma subida de igual dimensão em março. Depois disso, segundo os mesmos economistas, o BCE deverá subir novamente a taxa de depósitos, mas apenas em 0,25 pontos, colocando esta taxa em 3,25% e dando por fim ao ciclo de subida das taxas de juro. E as dúvidas que existem em relação a esta atuação da entidade liderada por Christine Lagarde são todas no sentido de as subidas poderem vir a ser ainda mais agressivas.
O objetivo da autoridade monetária é conhecido: trazer a taxa de inflação média para um patamar próximo dos 2%, um valor ainda muito longe do crescimento homólogo dos preços de 9,2% que se registou em dezembro do ano passado. Para ajudar na decisão que Lagarde e os seus pares terão de tomar já esta quinta-feira será determinante o valor da inflação de janeiro cuja estimativa será conhecida esta quarta-feira.
Como baixar a prestação da casa
Independentemente do que vier a ser decidido em Frankfurt, os detentores dos cerca de 1,4 milhões de contratos de crédito à habitação podem tentar alternativas para reduzir a prestação mensal a pagar ao banco. Desde a renegociação do contrato de crédito, à realização de amortizações antecipadas do capital em dívida há formas de tentar evitar uma taxa de esforço que se torne incomportável.
Desde 26 de novembro do ano passado e durante, pelo menos, todo o ano de 2023, está em vigor nova legislação que permite algumas dessas soluções que permitem, por exemplo, que quem tenha um contrato de crédito indexado a uma taxa variável, possa fazer amortizações antecipadas sem tem de pagar penalizações.
A consulta de novas soluções no mercado é outro dos caminhos que pode ser seguido para tentar aliviar a fatura mensal a pagar ao banco. A Deco disponibiliza um simulador que ajuda a avaliar as vantagens e desvantagens de transferir o crédito para outra instituição. E também o Banco de Portugal, no Portal do Cliente Bancário permite tirar dúvidas sobre as regras do crédito à habitação.