Ver o futuro através de recordações - TVI

Ver o futuro através de recordações

  • Portugal Diário
  • 3 jan 2007, 11:46

Estudo revela que zona do cérebro usada para recordar o passado é a mesma que «imagina» o futuro

As regiões do cérebro relacionadas com a memória e com a habilidade para recordar imagens vividas em experiências passadas também permitem a cada pessoa projectar o futuro, revela um estudo da Universidade de Washington, citado pela Lusa.

Para este estudo, divulgado na publicação on-line de Janeiro da revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, os investigadores da Washington University in Saint Louis usaram técnicas de ressonância magnética para obter imagens latentes no cérebro e mostrar que recordar o passado e visionar o futuro são processos que funcionam em padrões similares, precisamente nas mesmas regiões do cérebro.

Os autores salientam que a habilidade do ser humano para recordar experiências do passado é estudada há mais de cem anos, mas até recentemente têm sido poucas as pesquisas sobre os processos cognitivos que permitem outras formas de atravessar o tempo com a mente, como a habilidade de se imaginar ou de se «ver claramente» a participar num evento futuro.

«No nosso dia-a-dia, gastamos provavelmente mais tempo a projectar o que iremos fazer no dia seguinte ou mais tarde do que a recordar, mas pouco é sabido acerca de como damos forma a essas imagens mentais sobre o futuro», disse Karl Szpunar, autor do estudo e aluno de doutoramento em psicologia da Universidade de Washington.

«As nossas descobertas sustentam a ideia de que a memória e o futuro do pensamento estão altamente relacionados e ajudam a explicar por que é que o pensamento sobre o futuro pode ser impossível sem memórias», acrescentou.

O estudo permite começar a compreender como a mente humana confia na recolha de dados vividos em experiências anteriores para se preparar para desafios futuros, sugerindo que visionar o futuro pode ser um pré-requisito essencial para muitos processos de planeamento.

No estudo, os investigadores usaram técnicas de ressonância magnética para captar os padrões de actividade do cérebro de estudantes universitários aos quais eram dados 10 segundos para revelar uma imagem mental viva acerca de si próprio ou de uma celebridade famosa a participar numa escala de experiências comuns da vida.

Aos participantes foi pedido que recordassem dados sobre o passado, tais como ficar perdido, passar tempo com um amigo ou ir a uma festa de aniversário, que se vissem a si próprios a experienciar tais actos no futuro ou para retratarem uma celebridade, tal como o ex-presidente norte-americano Bill Clinton, a participar nestes eventos.

Comparando imagens da actividade do cérebro em resposta às sugestões de determinado evento como uma recordação ou uma projecção futura, os investigadores encontraram uma sobreposição completa entre as regiões do cérebro usadas para recordar o passado e aquelas que são usadas para imaginar o futuro - cada região envolvida na recordação do passado foi usada também no visionamento do futuro.

Kathleen McDermott, investigadora do Laboratório da Memória e da Cognição da Universidade de Washington e colaboradora nesta investigação, salienta que o estudo é importante porque demonstra que a rede de neurónios que tem subjacente o pensamento futuro não está isolada no córtex frontal do cérebro, como alguns especulam.
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