Bacelo: comunidade cigana à espera de casa nova - TVI

Bacelo: comunidade cigana à espera de casa nova

  • Portugal Diário
  • 12 abr 2007, 15:38
Moradores do bairro do Bacelo (ESTELA SILVA/LUSA)

Continuam «presos como cães» no terreno onde as barracas foram demolidas

A roupa estendida numa corda, em plena rua, homens «ocupados» num jogo de cartas e a conversa permanente das mulheres fazem adivinhar o regresso da comunidade cigana do Bacelo, Porto, ao local de onde foi expulsa há 15 dias, noticia a Lusa.

Mais de uma dezena de pessoas, homens e mulheres de todas as idades, passam os dias a poucos metros do local onde alguns nasceram e outros viveram uma parte importante das suas vidas, na tentativa de manter um quotidiano interrompido com a demolição das suas barracas.

«Se não ficarmos nas pensões não temos direito à casa», disse à Lusa um dos elementos desta comunidade cigana.

Queixa-se também da falta de condições no que respeita, por exemplo, à alimentação e à «má vontade» da proprietária da pensão, que, entre outros pormenores, «desliga a luz à meia-noite».

Mas, o que mais preocupa as mulheres é a distância das pensões em relação às escolas frequentadas pelos seus filhos.

«Eu venho com os meus meninos, ainda cheios de sono, a pé desde o Marquês até à escola em Campanhã», queixava-se Gracinda dos Anjos, 42 anos, mãe de cinco filhos, três em idade escolar.

Aquando da demolição das barracas falou-se na possibilidade de uma carrinha transportar as crianças diariamente para a escola, mas a possibilidade não se verificou.

«Estamos cansadas. Se tivéssemos uma casinha vivíamos com outras condições e os meninos dormiam um bocadinho mais», lamentava-se Carminda dos Anjos.

Adélia dos Anjos é mãe de Gracinda, tem 71 anos e mais nove filhos vivos (cinco já morreram).

«Só nós e Deus é que sabemos. Vimos a pé de lá (zona do Marquês) até aqui e aqui ficamos todo o dia como os animais presos à estaca», queixava-se a idosa.

Câmara quer dar formação à comunidade cigana

«Já fornecemos os elementos que nos pediram, mas ainda não sabemos de nada», frisou Adélia dos Anjos que também nada sabe, nem entende, o que significa a acção de formação e educação anunciada recentemente pela CMP.

O assunto mereceu, aliás, criticas do dirigente nacional do Bloco de Esquerda, Teixeira Lopes, que considerou que a proposta tem «pressupostos claramente racistas» porque «tem como base a ideia de que as pessoas em causa são seres inferiores».

Na sequência das demolições, que começaram a 27 de Março, os 46 moradores daquelas barracas, todos de etnia cigana, foram colocados em pensões até que seja encontrada uma solução definitiva.
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