Mais estudos para uso terapêutico da cannabis - TVI

Mais estudos para uso terapêutico da cannabis

  • Portugal Diário
  • 4 mai 2007, 10:39

Substância activa da droga (THC) é eficaz em determinadas patologias

A utilização terapêutica da cannabis, uma das reivindicações da Marcha Global pela Marijuana que decorre sábado em cerca de 200 cidades, incluindo Porto e Lisboa, necessita de estudos que comprovem a sua eficácia relativamente a outros fármacos.

«Está demonstrado que a substância activa da cannabis (THC) é eficaz em determinadas patologias, mas não está suficientemente estudado se é a mais eficaz», afirmou esta sexta-feira à agência Lusa o psiquiatra Manuel Fernandez Esteves.

Para este especialista, «é preciso saber se a cannabis é a melhor solução ou se há outros fármacos que a superam». Fernandez Esteves defende, no entanto, a sua utilização caso venha a ser comprovada a eficácia face a outras substâncias.

«Caso seja útil, não deve haver problema com a sua utilização, até porque não há substâncias santas e substâncias demoníacas», sustentou Manuel Fernandez Esteves, recordando o caso dos opiáceos que são utilizados no alívio da dor.

A permissão da prescrição médica da cannabis para usos terapêuticos é uma das principais reivindicações da marcha que decorre sábado nas ruas das duas principais cidades portuguesas, juntamente com a legalização do consumo e do seu autocultivo e a regulamentação da venda em estabelecimentos autorizados.

«Queremos que o Estado trate a cannabis como uma droga legal, com os mesmos efeitos nefastos que tem o tabaco ou o álcool», defendeu João Carvalho, da organização da manifestação, em declarações à Lusa.

Nessa perspectiva, considerou que a marijuana «deve ser vendida como o tabaco e o álcool, com as mesmas restrições e o mesmo tratamento fiscal».

Para o psiquiatra Manuel Fernandez Esteves, «do ponto de vista clínico, a questão da liberalização é indiferente», frisando que «haverá sempre pessoas dependentes».

«O problema do consumo e da dependência vai manter-se e ninguém sabe (em termos clínicos) se há vantagens com a liberalização. Só com a experiência ou com estudos controlados se poderá saber», afirmou.

Manuel Fernandez Esteves salientou, no entanto, que o consumo de cannabis levanta duas preocupações especiais em termos clínicos, nomeadamente o síndrome amotivacional, «que está relacionado com a desmotivação, a falta de empenho, a dificuldade em atingir objectivos e o desinteresse que afecta quem consome muita cannabis».

«A outra preocupação, muito mais grave e que tem sido alvo de estudos e de análises em congressos, são as psicoses tóxicas relacionadas com o consumo de cannabis. São casos graves, ainda que não muito frequentes, de consumidores que desenvolvem psicoses parecidas com a esquizofrenia», salientou o especialista.
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