BdP agrava previsões: recessão muito mais profunda - TVI

BdP agrava previsões: recessão muito mais profunda

Crédito mais difícil e custo de vida mais caro

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O Banco de Portugal reviu as suas previsões para a economia portuguesa no Boletim Económico de Verão, divulgado esta terça-feira. As novas projecções são muito mais pessimistas do que as que constavam do Boletim de Primavera, que datava de Abril.

Em vez de 1,4%, afinal a economia portuguesa vai registar uma contracção de 2% este ano. E em 2012, não vai crescer 0,3%, como previa a instituição, mas sim contrair mais 1,8%.

A culpa da contracção é repartida por vários componentes: o consumo privado vai cair 3,8% em 2011 e 2,9% em 2012, quando antes o BdP apontava para descidas de 1,9 e 1%, respectivamente. O consumo público também vai recuar 6,3% este ano (anterior previsão era de -6,6%) e 4,4% no ano que vem (antes previa-se uma descida de 1%). Do lado do investimento, o BdP prevê agora quebras de 10,8 e 10% este ano e no ano que vem, em vez de descidas de 5,6 e 1,3%.

Exportações ajudam, mas cada vez menos

Contas feitas, a procura interna dá um forte contributo negativo para o andamento do PIB (-6% este ano e -4,6% em 2012), já que vai recuar 5,6% em 2011 (em vez dos anteriores 3,6%) e 4,4% em 2012 (em vez de 1%).

«As exportações serão a única componente da procura com um contributo positivo para o crescimento da economia

ao longo do horizonte de projecção, beneficiando da consolidação do crescimento económico mundial», explica o BdP, que prevê que as exportações continuarão a crescer, mas mesmo assim, a abrandar: depois de um aumento de 8,8% em 2010, crescerão 7,7% este ano e 6,6% no ano que vem.

Corte de défice e endividamento vai ser penoso

O Banco de Portugal escreve no Boletim que este cenário negativo tem em conta o programa de ajustamento da economia portuguesa, incluindo o reforço da consolidação das finanças públicas, e a desalavancagem do sector privado, incluindo o sistema financeiro.

No entanto, avisa, «a correcção dos desequilíbrios macroeconómicos não deixará de implicar no horizonte de projecção uma contracção significativa da procura interna, com impacto ao nível da actividade económica e do emprego». E a desalavancagem da banca, que deverá ser «gradual e ordenada», deverá «condicionar em alguma medida o acesso dos agentes económicos a novo crédito, constituindo um factor limitativo adicional da despesa, em particular de consumo de bens duradouros e de investimento privado, não obstante a redução esperada na procura de crédito».

Às dificuldades de acesso ao crédito junta-se a quebra do rendimento e o aumento do custo de vida. O Banco de Portugal aponta para uma taxa de inflação de 3,4% este ano, muito por causa dos aumentos de impostos e de «um aumento muito significativo dos preços de alguns bens e serviços sujeitos a regulação», a que se junta o aumento do preço do petróleo. Em 2012, a taxa de inflação deverá já recuar para 2,2%.

BdP avisa para possível renascer da crise de dívida europeia

O Banco de Portugal alerta, ainda que as atuais projecções «caracterizam-se por um nível de incerteza particularmente elevado», condicionado pela «possibilidade de eventuais desenvolvimentos económicos e financeiros adversos a nível internacional, bem como o recrudescimento da crise soberana ao nível europeu».

Também o impacto das medidas de austeridade é «de difícil avaliação, pelas alterações significativas e abrangentes que deverão implicar no funcionamento da economia». Por outro lado, «o impacto deste programa nas expectativas dos agentes reveste-se também de uma elevada incerteza».

Apesar dos efeitos negativos na economia no curto prazo, o BdP lembra que «a prossecução estrita do programa de ajustamento económico e financeiro é uma condição essencial do retorno a um clima de confiança e a um enquadramento propício ao crescimento sustentado da economia».
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