BES: governador do Banco de Portugal «receou fuga de informação» - TVI

BES: governador do Banco de Portugal «receou fuga de informação»

Deputada do BE, Mariana Mortágua, destaca que versões de Carlos Tavares e de Carlos Costa são diferentes. Presidente da CMVM revela que houve grandes entidades a vender «massivamente» ações no dia fatídico

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Numa questão de 24 horas, tudo mudou. Os resultados do BES, com os avultados prejuízos, foram divulgados na quarta-feira à noite e, nesse momento, «havia toda a informação suficiente», que não indicava ser prudente suspender as ações, diz o presidente da CMVM: «Face aos comunicados e aos resultados não tínhamos razão para supor falta de informação». Na sexta-feira, a meio da tarde, o cenário mudou de figura.

Pela manhã, a negociação das ações do BES registou «quedas acentuadas», mas a CMVM «não pode, não deve interromper a negociação só pelo facto de os preços estarem a cair a menos que suponha que mercado esteja a atuar na posse de informação incorreta, ou que não saiba e que deva saber», reforçou Carlos Tavares.

A partir das 15 horas registou-se a queda abrupta, e os títulos do BES, em bolsa, ficaram a valer menos de metade. «O governador [do Banco de Portugal] contactou-me às 15:12, dizendo apenas que receava que houvesse fuga de informação»

«A fuga de informação foi explicada pelo Governador?», perguntou a deputada do BE, Maria Mortágua. «Não, nem eu lha pedi», respondeu o regulador de mercado.

Depois do  silêncio que se fez, Carlos Tavares acrescentou: «A decisão de suspender a negociação tem de ser rápida e não há tempo para estar com grandes conversas». «E eu até estava a gozar o meu direito constitucional de férias», referiu, mas acompanhou o assunto. «Voltei a ligar-lhe [a Carlos Costa] para saber se havia informação nova».

No entanto, como se sabe, o mercado fecha às 16:35. «Estávamos a uma hora do fecho das ações. Não fazia sentido suspender as ações só porque estavam a descer».

Além de que, ressalvou, «é a euronext que suspende as ações quando me é dada a informação, que haverá desenvolvimentos no fim-de-semana  e que tinha de parar imediatamente».

A deputada do BE concluiu que a situação reportada pelo presidente da CMVM «é grave». «É que os reguladores contem versões diferentes de uma conversa privada. Até porque teve uma grave consequência».

Carlos Tavares desvalorizou a constatação. «Independentemente dos termos da conversa, a minha versão será só a que foi, não é muito relevante, não estava em causa a suspensão da negociação ali, estava em causa ter suspendido muito antes».

Neste momento, socorreu-se dos slides que trouxe: «Basta olhar para a negociação e ver gráficos, quantidades e preços que aconteceram nesses últimos dias para termos a suspeita de que havia informação assimétrica no mercado. Vimos, de facto, alguns investidores a desinvestir massivamente e muitos a investir pensando que estavam a comprar a bom preço». De facto, especificou, «dia 31 de julho e 1 de agosto há uma negociação anormalmente elevada e aquelas quedas todas também».

O que, admitiu, «faz-nos supor que algum facto [possa ter] desencadeado uma mudança do padrão da negociação».

Carlos Tavares revelou, ainda, que no dia fatídico «há muitos institucionais, mais pequenos, a comprar e muitos institucionais de maior porte, a vender».

Mariana Mortágua perguntou quem, ao que Carlos Tavares preferiu invocar três segredos para não responder: profissional, de justiça e comercial, acumulados.

O presidente da comissão de inquérito, Fernando Negrão (PSD), entrou em cena e avisou o presidente da CMVM que os deputados acordaram levantar o segredo profissional. «Temos conseguido levantar segredos à medida que vão aparecendo, mas temos de ser cuidadosos, senão podemos deitar tudo a perder», advertiu, desta vez aos deputados.

Carlos Tavares ainda deu outra novidade, que acabou por corrigir, em parte: «A suspensão das ações está sob segredo de justiça», disse, primeiro. Depois, explicou que há um «processo de averiguação» e, na sequência do mesmo, poderá ser reencaminhado para o Ministério Público e, nessa altura, estar efetivamente sob segredo de justiça.

Quanto ao anúncio da solução por que se optou (de banco bom e banco mau), que saiu antes do anúncio oficial, Carlos Costa respondeu: «Desvalorizei-a. Nada indicava que pudesse ter fundamento». Mas teve. Nasceu o Novo Banco. O BES passou a ser tóxico, mau. 

De qualquer modo, descartou responsabilidades.Deixou reiteradamente a garantia de que a CMVM não foi envolvida no processo de intervenção do BES.«Não foi sequer consultada sobre a matéria». 

 
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