«Governo sobe transportes para preparar privatizações» - TVI

«Governo sobe transportes para preparar privatizações»

PCP e BE acusam Executivo de estar a pôr «dinheiro em caixa»

O PCP acusou esta quinta-feira o Governo de estar a «preparar as privatizações das empresas» do sector» dos transportes ao subir o preço dos passes e bilhetes. E isto «à custa dos utentes». É um «autêntico roubo» para as populações, na perspectiva dos comunistas.

«O objectivo é muito claro: preparar as privatizações das empresas à custa dos utentes, dos trabalhadores e do Estado. E o aumento dos preços é uma condição indispensável para a privatização. Assim é dinheiro em caixa: pagam os utentes com tarifas mais altas, pagam os trabalhadores com salários e direitos cortados e paga o Estado com dinheiros públicos», apontou o deputado Bruno Dias.

Numa declaração política no plenário da Assembleia da República, o deputado do PCP considerou que a decisão o anunciado aumento dos preços dos transportes a partir de 1 de Agosto é «uma escalada sem precedentes na política tarifária» do sector e «um verdadeiro assalto para os trabalhadores» e para as populações.

«O salário mínimo nacional não aumenta 15 euros, mas os passes e os títulos de transportes são aumentados até 25% de uma forma verdadeiramente escandalosa», indicou, citado pela Lusa.

«Os preços têm tido atualizações muito superiores à inflação. A lógica subjacente a esta perspetiva do Governo, de que o custo de produção dos serviços de transportes têm de ser suportados pelos utentes e ponto final, é pura e simplesmente uma mentira».

No entender de Bruno Dias, a dívida das empresas de transportes «foi provocada com a opção de desorçamentar os investimentos em transportes». Por isso, disse, «a ideia de que o aumento de preços, por maior que fosse, resolveria o problema criado às empresas por 20 anos de opções políticas erradas é um total absurdo».

Acrescem os «ganhos no desenvolvimento do sistema de transportes que beneficiam toda a sociedade e toda a economia», além de benefícios relacionados com a «redução da importação da energia e a dependência do petróleo» ou a «melhoria ambiental» associada à existência de transportes públicos.

BE fala em «desastre económico»

Também para a deputada do Bloco de Esquerda Catarina Martins, o aumento do preço dos transportes é uma «violência social» e um «desastre económico», penalizando «sobretudo quem mora nas periferias e as famílias com menos recursos que foram empurradas para as periferias».

Ou seja, «estamos claramente numa trajetória para o fim do passe social, que foi uma conquista da democracia». Este é, para o BE, «um percurso para a privatização, com consequências no desenho geográfico dos transportes públicos, da coesão territorial, do direito à mobilidade das populações».

Pelo CDS/PP, Hélder Amaral acusou o PCP de só ter contado «parte da história» relativa à situação das empresas de transportes.

«Como é que se resolve um problema em que, por exemplo, a REFER [tem] 6043 milhões de dívida, Carris 716 milhões, Metro de Lisboa, 3812 milhões (¿). Obviamente que isso não se resolve só com o pagamento dos transportes. Mas também se resolve com uma exploração razoável e que não seja tão deficitária».

Na opinião do deputado, é necessário «um serviço público de qualidade e com uma oferta razoável».

Hélder Amaral considerou que o problema destas empresas não se resolve «com uma visão de quem não quer pagar dívida nenhuma e não quer preservar a credibilidade do país». E defendeu a manutenção do serviço público e o desenvolvimento de «condições de o financiar, de lhe dar uma oferta de acordo com a procura, preços com capacidade de serem socialmente justos e empresas que eventualmente possam ser lucrativas».

Luís Menezes, do PSD, questionou também quais as alternativas para «manter as empresas» de transportes, «cujo modelo económico faliu».
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