Medidas não resolvem. Economista explica porquê - TVI

Medidas não resolvem. Economista explica porquê

«Ninguém nos empresta dinheiro». Silva Lopes até concorda com algumas das medidas anunciadas, mas antecipa problemas de crescimento económico ainda maiores

O Governo anunciou esta quarta-feira uma série de cortes na despesa e novos aumentos de impostos. Embora alguns até sejam encarados pela positiva por Silva Lopes, este economista considera que não vão adiantar de muito.

«Concordo com aumento dos impostos sobre contribuintes com mais rendimentos, mas não resolve o problema, porque basicamente vai atingir apenas contribuintes cujo rendimento é sujeito à tributação progressiva». «Quem recebe rendimentos de dividendos», por exemplo, não paga tanto comparado «com um indivíduo que ganhe 50 mil euros por ano», que «já paga parte grande pelo seu rendimento», assinalou, entrevistado por Judite Sousa, no Jornal das 8.

« É muito difícil que os mais ricos paguem. O mundo organizado por forma a que os ricos não paguem. Há paraísos fiscais... Muitas empresas nacionais têm holdings na Holanda».

Depois, «infelizmente temos uma situação em que temos de fazer um ajustamento brutal em poucos meses» e «Portugal é o país de toda a Europa que tem a maior dívida externa em relação ao PIB». Tudo bem que «um país nunca desapareceu, mas há uma crise muito maior do que pensávamos».



Tanto que «ninguém nos empresta dinheiro», pelo que as medidas anunciadas não são suficientes, bem como o empréstimo da troika. «78 mil milhões só seriam suficientes em condições favoráveis que tenho receio que não se verifiquem».

O país precisa de euro-obrigações. «Se não as tivermos, não temos outro remédio do que cortar muito na despesa», que, atendendo às metas hoje apresentadas, a redução é «muito maior» do que do lado da receita.

E, neste campo, «o ministro das Finanças não escondeu: o IVA vai ser aumentado. Ele chamou racionalização mas isso é aumento de taxas, pelo menos das intermédias, mas provavelmente outras». Silva Lopes está à espera que «muitos produtos que estão hoje na taxa intermédia ou na mínima passem para taxas maiores e mesmo a máxima não me admira que venha a aumentar».

«É verdade que tenho fama de pessimista - ninguém tem mais desejo de se enganar do que eu - mas, infelizmente, nos últimos anos as minhas previsões foram optimistas. Foi sempre pior do que eu pensava».

E o pessimismo continua: o economista antecipa «problemas de crescimento económico ainda maiores; tende a acontecer porque há crise mundial» e as exportações podem ser afectadas; depois, há a «crise europeia financeira - basta a Grécia entrar em incumprimento para sermos atingidos. Ninguém nos empresta um tostão no mercado. Dependemos de auxílios oficiais».
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