Mudar a cidade e criar meio milhão de empregos - TVI

Mudar a cidade e criar meio milhão de empregos

(Foto Cláudia Lima da Costa)

É só dinamizar o mercado de arrendamento e reabilitar o parque urbano. Não é pouco, mas é o início de um caminho que quer inverter o actual estado de coisas, em que a banca é o principal senhorio do país e as pessoas moram na periferia

É uma promessa que pretende dinamizar o mercado do arrendamento, reabilitar o parque citadino e promover o emprego. Como? Com o projecto «fazer acontecer a regeneração urbana», garante à Agência Financeira o presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP)

«Está na altura de mudar de caminho», diz António Saraiva, que compara o programa de erradicação de barracas à reabilitação de casas degradadas. «Em pleno século XXI, 1700 casas em Lisboa não têm casa de banho. Porque é que com as barracas era tão urgente e com casas degradadas, prestes a ruir, não há emergência por parte do Estado?»

Em entrevista, Saraiva sublinha ainda que com este projecto, através das empresas portuguesas, serão criados mais de meio milhão de postos de trabalho e o PIB terá um acréscimo anual de 900 milhões de euros, num período de 18 a 20 anos.

Certo que é desta que com um conjunto de medidas aprovadas no passado Conselho de Ministros do dia 17 será possível finalmente começar a reabilitar a paisagem urbana, a CIP convidou a Confederação das Construtoras a entrar nesta equação, retirada que está a parcela de edificação de novos fogos habitacionais.

«Já não há absorção para novas construções. Há uma bolsa de habitações vazias, que não têm procura. É preciso por isso que as pequenas e médias empresas se dediquem a reabilitar as cidades que estão degradadas», até porque muitas já encerraram portas e outras caminham para o mesmo fim. «Se não podem construir de novo, que melhor solução pode haver que a de reabilitar a paisagem urbana?»

Durante anos, o «Governo não promoveu o mercado de arrendamento e incentivou à compra de casa». Soma-se a este cenário, o receio de arrendar. Uma mudança que acontecerá em breve e que pretende agilizar o despejo; talvez assim Lisboa, onde apenas vivem 500 mil pessoas, possa chamar mais habitantes que foram «afugentados» para a periferia.

Mas o paradigma mudou: «Habituámo-nos mal: vivemos com dinheiro barato e fácil, do qual abusamos. Esse tempo acabou: o dinheiro é mais caro, mais escasso». Comprar será uma opção cada mais perigosa, à vista de uma situação económica difícil, com cortes salariais e menos dinheiro disponível para prestações que vão ficar cada vez mais caras».

Na área metropolitana de Lisboa, moram 2 milhões de pessoas. Todos os dias entram na cidade 480 mil carros. Um movimento pendular que prejudica a economia: «Não é só em qualidade de vida; é no absentismo, na falta de produtividade, nas horas sem fim que se gastam no trânsito com prejuízo também para a vida familiar».

«Um absurdo» a que é preciso dizer basta: «Agilizar os despejos é um começo, mas «alterar substancialmente o mercado de arrendamento».

Mas o caminho é longo. «A reabilitação urbana começou agora. O que o Governo tem de fazer (seja ele qual for) é o que os outros não fizeram por falta de coragem e alterar a lei das rendas, acautelando os problemas sociais, como o dos desempregados e pensionistas, que precisam de ajuda do Estado social».

Há um «dupla solução»: «O senhorio tem de ver o seu património rentabilizado e reabilitado e é preciso que existam políticas públicas de subsidiação das rendas para os casos desprotegidos socialmente».

«Há um função social que o Estado não pode descartar», garante, e recorda o programa de erradicação de barracas que há uns anos mudou Lisboa. «Todos aplaudimos este processo, mas qual a diferença entre essa barraca e o senhor de idade que mora na avenida da Igreja numa casa a cair, onde chove na sala? O Estado não tem de se preocupar com isso?»

Veja também o que diz o presidente da CIP sobre as novas regras de despedimento e o salário mínimo.
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