S&P debaixo de fogo por ter cortado rating nacional - TVI

S&P debaixo de fogo por ter cortado rating nacional

Bolsa

Papel das agências de notação financeira cada vez mais posto em causa

A Standard & Poor's (S&P) está a receber duras críticas por ter cortado a classificação da dívida portuguesa num momento tão delicado. O Bank of America Merrill Lynch diz mesmo, numa nota emitida esta quarta-feira, que a agência de notação está a «atirar gasolina para a fogueira».

O banco de investimento refere que a decisão da S&P só veio acirrar o nervosismo dos mercados, quando o Governo português já garantiu que «vai continuar a fazer tudo o que for necessário para eliminar a situação de défice excessivo».

Mais do que isso, o banco sugere que a situação está a sofrer de algum exagero, tendo em conta que se está a instalar o receio de que a situação de Grécia e Portugal contamine toda a Zona Euro, quando o peso de Portugal e Grécia na União Europeia é mínimo e que «a China importa muito mais para as principais economias do que Portugal e a Grécia».

Corte de rating põe empresas em risco

Também o presidente da Agência Portuguesa para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) se mostrou indignado com a atitude da S&P, considerando-a «uma manipulação de mercado» e um «ataque violento».

«É uma penalização absolutamente excessiva. Em meu entender, nem sequer é um ataque especulativo, isto é manipulação de mercado», afirmou Basílio Horta em declarações à agência Lusa.

«Não se compreende que, em três dias, uma grande parte das empresas mais importantes da economia portuguesa perca mais de 12% do seu valor», acrescentou, explicando que esta decisão da S&P vai ter efeitos muito negativos no investimento e dificultar o financiamento das empresas, colocando em perigo muitos projectos.

Por isso mesmo, Portugal tem de «responder a este ataque» de forma concertada no plano político e reanalisar o Plano de Estabilidade e Crescimento, para o colocar no terreno o quanto antes.

UE exorta agências a serem sérias e rigorosas

Do mesmo modo, a União Europeia respondeu à atitude da S&P, afirmando esperar que as agências de rating ajam «com responsabilidade e de forma rigorosa» relativamente à crise grega.

O porta-voz da União disse em Bruxelas que as agências devem «ter em consideração os fundamentais da economia grega» e apoiar o pacote de medidas de austeridade que a Grécia está a negociar com as autoridades europeias e do FMI.

S&P explica a decisão

A S&P justificou já a sua decisão. O director da agência para Portugal, Kai Stukenbrock, disse à Lusa que o corte do rating deveu-se à revisão em baixa das perspectivas de crescimento da economia nacional.

«A revisão do rating não foi tomada devido a qualquer acto particular de política ou de qualquer desenvolvimento que tenha ocorrido nos últimos dias. O que mudou foi a nossa avaliação do cenário de crescimento económico para Portugal», disse.

«Prevemos agora que o crescimento real e nominal seja um pouco mais baixo no horizonte da projecção até 2013. Na nossa opinião, isto terá um impacto directo no défice orçamental, que esperamos que se mantenha acima dos 4% até 2013».

«Como resultado do défice mais elevado e do mais baixo crescimento nominal (pensamos mesmo que o PIB nominal só atinja em 2012 os níveis de 2008) não vemos o rácio da dívida pública a estabilizar no horizonte da projecção, mas sim que continua a aumentar até atingir os 95% do PIB em 2013», acrescentou.

O responsável explicou ainda o cenário económico mudou, devido a «uma recuperação mais ténue na zona euro e em Espanha, em particular». E teve ainda em conta os riscos de um potencial choque de juros.

Para além disso, admite. A agência vê «algum risco político na implementação» das medidas do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), pelo que o défice pode não baixar tanto como o Governo prevê. «No entanto, prevemos que o Governo será capaz de conseguir acordos pontuais da oposição para passar a legislação mais importante, como foi o caso do Orçamento e do Programa de Estabilidade e Crescimento».
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