Agências de «rating» enfrentam «momento Nixon» - TVI

Agências de «rating» enfrentam «momento Nixon»

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Agências acusadas de usar modelos ineficazes para calcular risco de crédito

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A pressão sobre as agências de «rating» está a subir na Justiça e Senado norte-americanos, após a revelação de sucessivos erros de avaliação antes da crise financeira e conflitos de interesse favorecedores dos bancos em relação aos investidores.

Na sexta-feira, um subcomité de investigações do Senado, encabeçado pelo senador Carl Levin, divulgou mais de 500 páginas que documentam a crise financeira nas agências. São acusadas de usar modelos ineficazes para calcular o risco de crédito, de empregar pessoal impreparado e de sucumbir a pressões concorrenciais para satisfazer os interesses dos bancos, que lhes pagavam por avaliações supostamente independentes.

Em 2007, refere a investigação, a Moody¿s reviu em baixa 8.725 ratings. Num só dia, 30 de Janeiro de 2008, a S&P fez 6.300 downgrades. Em 18 meses, as duas grandes agências fizeram mais revisões em baixa do que em todos os seus 90 anos de história. Segundo o Senado, este comportamento contribuiu para o pânico nos mercados, escreve a Lusa.

No meio do «furacão», uma mensagem interna de um funcionário da Standard & Poor¿s, afirmava que a agência parecia «a Casa Branca de Nixon», presidente obrigado a demitir-se no escândalo Watergate. O mesmo é citado a alertar para a possibilidade de um «acontecimento Arthur Andersen» nas duas principais agências, referindo-se à consultora arrasada pelo escândalo da Enron, cujos negócios caucionou.

Falta de qualidade das avaliações de crédito?

As mensagens mostram que executivos de topo das agências ignoraram preocupações internas sobre a falta de qualidade das avaliações de crédito, para não perder negócio dos principais clientes dos ratings os bancos. Chamado a depor no Senado, o presidente da Moody¿s defendeu o modelo de remuneração, mas admitiu a incapacidade de prever a deterioração do mercado imobiliário norte-americano sub-prime, detonador da crise.

Numa altura em que no Senado também se discute a reforma do sector financeiro norte-americano, as audições passam na terça-feira ao caso Goldman Sachs, acusada de fraude pela agência reguladora dos mercados de valores mobiliários (SEC). As agências estão a ser obrigadas pela Justiça a divulgar informação sobre este e outros casos.

As mais duras críticas às agências vieram de ex-funcionários, que relataram casos de pressões para ratings favoráveis e de conflitos de interesse, com destaque para Eric Kolchinsky, ex-director da Moody¿s suspenso de funções em 2007 depois de ter lançado vários alertas internos para as chamadas obrigações colateralizadas de dívida, que estão no centro da acusação da SEC à Goldman.
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