Cortar despesa? «É preciso ir à carne» - TVI

Cortar despesa? «É preciso ir à carne»

Novos escalões de IRS são «tudo menos progressivos»

O ex-ministro das Finanças, José Silva Lopes, diz que o Governo «ainda não se deu ao trabalho» de cortar na despesa porque é necessário «ir à carne».

Comentando o Orçamento do Estado para 2013 (OE2013), o economista, que falava numa conferência organizada pelo Instituto de Direito Económico Financeiro e Fiscal da Faculdade de Direito de Lisboa, disse que «para cortar [na despesa] é preciso ir a sério, é ir à carne», adiantando que este Governo «não se deu ao trabalho de identificar onde deve cortar», cita a Lusa.

Segundo Silva Lopes, que pretende estar presente nas manifestações contra Merkel, o Executivo, até aqui, tem «andado a fazer o possível para não cortar muito» porque «politicamente é mais fácil aumentar a receita do que cortar na despesa».

Interesses instalados protestam, avisa

O ex-ministro das Finanças explica que quando se toma uma decisão de cortar na despesa num sítio concreto, «os interesses ligados àquele sítio concreto protestam», como a situação na CP em que há «greves para toda a vida», ou nas Forças Armadas.

Neste último caso, Silva Lopes explica que, segundo uma organização internacional com sede na Suécia, que não identificou, mostra que Portugal é o terceiro país da Europa com maiores despesas militares, representando 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB), o que compara com 1% de Espanha.

«Vou apanhar tareia por todo o lado se isto sair desta sala», disse Silva Lopes em tom de brincadeira quando defendeu que, em matéria de redução de despesa do Estado, as Forças Armadas deveriam ser contempladas.

Receitas temporárias falseiam défice

O economista criticou também o esquema das receitas temporárias para cumprir o défice anual ao afirmar que, mais uma vez, «o Governo vai ter receitas temporárias de 1% do PIB que permitem falsear o défice».

E acrescentou que o Executivo de Pedro Passos Coelho «não é o primeiro», uma situação que se iniciou com Manuela Ferreira Leite como ministra das Finanças, que se tornou «rapidamente perita nessa área».

No que se refere aos novos escalões do IRS, Silva Lopes comenta que «as maiores vítimas são as famílias com um rendimento tributável entre os 10.000 euros e os 18.000 euros», acrescentando que os escalões são tudo «menos progressivos», aliás são «latamente regressivos».

O economista diz ainda que as previsões do Governo sao «coisa imaginária».
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