EUA, Japão e Coreia do Sul assinam compromisso de segurança. Não é a NATO do Pacífico, mas uma ameaça a um é "uma ameaça a todos" - TVI

EUA, Japão e Coreia do Sul assinam compromisso de segurança. Não é a NATO do Pacífico, mas uma ameaça a um é "uma ameaça a todos"

  • Agência Lusa
  • BC
  • 18 ago 2023, 15:27
Caças F-16 norte-americanos em exercício da NATO na Europa (Foto: Ronald Wittek/EPA)

Novo compromisso trilateral estabelece "dever de consulta" entre os três países no caso de uma crise no Pacífico. EUA garantem que a parceria "não é contra ninguém, é por algum coisa"

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Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul vão estabelecer um compromisso de segurança trilateral, prevendo consultas no caso de uma crise ou ameaça no Pacífico, segundo fontes da administração norte-americana hoje citadas pelas agências internacionais.

O novo compromisso de “dever de consulta”, adiantaram as mesmas fontes, será anunciado pelo presidente norte-americano, Joe Biden, na cimeira de hoje com o homólogo sul-coreano, Yoon Suk Yeol, e com o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, agendada para Camp David, a residência de campo presidencial no Estado de Maryland.

O “dever de consulta” visa reconhecer que os três países compartilham “ambientes de segurança fundamentalmente interligados” e que uma ameaça a uma das nações é “uma ameaça a todos”, disse à agência norte-americana AP um alto funcionário da administração Biden, que falou sob anonimato.

Ao abrigo do compromisso, os três países concordam em consultas, partilha de informações e em alinhar as suas mensagens perante uma ameaça ou crise, segundo a mesma fonte.

O compromisso não infringe o direito de cada país de se defender, conforme o direito internacional, nem altera os compromissos de tratados bilaterais existentes entre os Estados Unidos da América (EUA) e o Japão e os EUA e a Coreia do Sul, acrescentou o funcionário.

Os EUA têm mais de 80.000 soldados destacados nos dois países asiáticos.

O acordo insere-se num conjunto de iniciativas conjuntas a anunciar, no âmbito do estreitamento de laços económicos e de segurança promovido pela administração norte-americana num contexto de preocupação conjunta com as ameaças nucleares da Coreia do Norte e as ambições da China no Mar do Sul da China e Pacífico Sul.

Kishida, antes de deixar Tóquio na quinta-feira, disse à comunicação social que a cimeira será uma “ocasião histórica para reforçar a cooperação estratégica trilateral” com Seul e Washington.

“Acredito que é extremamente significativo realizar uma cimeira Japão-EUA-Coreia do Sul, onde os líderes dos três países se reúnem no momento em que o ambiente de segurança em torno do Japão é cada vez mais desafiante”, adiantou.

Antes mesmo de começar, a cimeira atraiu duras críticas públicas do Governo chinês.

“A comunidade internacional tem o seu próprio julgamento sobre quem está a criar contradições e aumentar as tensões”, disse hoje o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Wenbin.

“Tentativas de formar vários grupos e pequenos clubes exclusivos e trazer o confronto em bloco para a região da Ásia-Pacífico são impopulares e certamente despertarão vigilância e oposição nos países da região”, disse Wang.

Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional norte-americano, rebateu as preocupações chinesas.

“Não é explicitamente uma NATO para o Pacífico”, disse Sullivan.

“Esta parceria não é contra ninguém, é por alguma coisa. É por uma visão do Indo-Pacífico livre, aberto, seguro e próspero”, reforçou.

A cimeira de hoje é a primeira que Biden realiza durante sua Presidência no histórico retiro presidencial de Camp David, onde o ex-Presidente Jimmy Carter encontrou-se com o Presidente egípcio Anwar Sadat e o primeiro-ministro israelita Menachem Begin em setembro de 1978 para negociações que estabeleceram uma estrutura para um histórico tratado de paz entre Israel e o Egito em março de 1979.

Coreia do Sul e Japão mantêm divergências sobre a história da Segunda Guerra Mundial e o domínio colonial do Japão sobre a península coreana, de 1910 a 1945, mas os dois países começaram uma reaproximação sob as lideranças de Kishida e Yoon, perante desafios de segurança comuns apresentados pela Coreia do Norte e China.

Yoon propôs uma iniciativa em março para resolver disputas decorrentes da compensação de trabalhadores forçados coreanos durante a guerra e viajou para Tóquio na mesma altura para conversações com Kishida, a primeira visita desse tipo de um Presidente sul-coreano em mais de 12 anos.

Kishida retribuiu com uma visita a Seul em maio e expressou simpatia pelo sofrimento dos trabalhadores forçados coreanos durante o domínio colonial do Japão.

A visita de Kishida e Yoon aos Estados Unidos realiza-se quando a Coreia do Norte parece ter intensificado os lançamentos de mísseis balísticos para o Mar do Japão, especialmente depois de manobras militares conjuntas norte-americanas, japonesas e sul-coreanas.

Além disso, no mês passado, a propósito do 70.º aniversário do fim da guerra da Coreia, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, presidiu com o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, a um desfile militar em que exibiu a capacidade bélica, incluindo o nuclear, do Estado asiático.

A reunião em Camp David coincide com a visita do ministro da Defesa chinês, Li Shangfu, à Rússia e Bielorrússia.

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