Está a ocorrer um crescimento rápido de grupos criminosos organizados na floresta amazónica. Alexandre Saraiva, ex-chefe da polícia, teme que as ações de fações criminosas organizadas possam dar origem a um longo conflito com o governo, que poderá levar à morte milhares de pessoas na região.
"Eu vi como o Estado perdeu o controlo da segurança pública no Rio de Janeiro", disse Saraiva. "E na Amazónia hoje - se nada for feito em termos de segurança pública - estamos diante de um Rio de Janeiro do tamanho de um continente, com a agravante de que as fronteiras com os grandes produtores de drogas estão num cenário de selva extraordinariamente difícil."
De acordo com o The Guardian, o antigo responsável policial alerta para os danos que uma operação contra as drogas poderá ter na floresta tropical, bem como nas suas populações locais se estes grupos organizados evoluírem para fações armadas rebeldes, como na Colômbia.
“Teremos zonas de revolução, de grandes conflitos entre grupos que lutam por áreas de extracção ilegal de ouro e de madeira. No meio disso, teremos também vítimas indígenas. E vamos enfrentar imensas dificuldades logísticas para combater este problema."
Este alerta ocorre numa altura em que se aproxima o aniversário da morte do jornalista britânico, Dom Phillips, e do perito indígena brasileiro, Bruno Pereira. Estas mortes vieram expor ao mundo a devastação ambiental que está a ocorrer devido à ação de grupos criminosos organizados na floresta amazónica.
Já em dezembro de 2022, o juiz Luís Roberto Barroso tinha alertado para o perigo do Brasil perder o controlo da Amazónia para estas fações criminosas, pedindo que vários peritos em ambiente, investidores e autoridades locais de todo o mundo se reunissem para tentar encontrar soluções para a preservação da floresta amazónica e dos 25 milhões de pessoas que ali vivem, segundo a agência Reuters.
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a violência letal na região da Amazónia é 38% superior à do resto do país. O The Guardian fala em oito mil mortos e salienta que a taxa de mortalidade naquela zona é semelhante à do México.
Só no estado de Amazonas, foram mortas 1 432 pessoas no ano passado, entre as quais Dom Phillips e Bruno Pereira, sendo que a taxa de mortalidade está 74% acima da média nacional.
Também a quantidade de mortes ocorridas devido à ação do exército e da polícia aumentou 71% na Amazónia entre 2016 e 2021.
Fações criminosas como o Primeiro Comando Capital (PCC), de São Paulo, e o Comando Vermelho, do Rio de Janeiro, operam agora em todos os nove estados brasileiros onde a floresta amazónica está presente, bem como outros quinze grupos criminosos regionais.
De acordo com o FBSP, a Amazónia tinha, no ano passado, dez das trinta cidades mais violentas do país.
"No vale do Javari, temos uma convergência entre tráfico de drogas, pesca ilegal, extração ilegal de madeira e mineração. E, no meio disso tudo, havia um homem chamado Bruno [tentando combater o crime ambiental]", disse Alexandre Saraiva ao The Guardian.
"O crime organizado está a diversificar-se para outras actividades ilegais que a sociedade brasileira tende a considerar como delitos menores. A máfia vai onde quer que haja dinheiro. Não importa se é crime ambiental, contrabando de pessoas, cocaína. E o que eles veem lá [na Amazónia] é ouro e madeira que está a ser vendida por um preço muito alto. É óbvio que não demoraria muito para que eles se envolvessem nisso."