Mães que negam a gravidez - TVI

Mães que negam a gravidez

  • Portugal Diário
  • Elsa Resende para Lusa
  • 30 jan 2007, 11:58

Chegam a negar o seu estado quando já estão em trabalho de parto

A angústia de ser mãe pode levar uma mulher a negar a sua gravidez, ao ponto de ser confrontada pelos médicos com o seu estado quando entra nas urgências de um hospital em pleno trabalho de parto.

O fenómeno, de origem psicológica, é raro e, segundo especialistas ouvidos pela Agência Lusa, acontece quando a negação é usada inconscientemente pela mulher como mecanismo de defesa contra o sofrimento, medo de estar grávida ou de ser mãe devido a motivos que continuam a ser um mistério.

Nestes casos, os vulgares sinais de gravidez são atribuídos a outras causas - o crescimento da barriga, ainda que pouco proeminente, é um «inchaço» provocado por descontrolo hormonal, o aumento de peso deve-se a um apetite ocasional, a sonolência é apenas cansaço.

Já a falta de menstruação é encarada como «normal» porque «sempre foi irregular», adianta Mónica Fernandes, psicóloga da Maternidade Júlio Dinis, no Porto.

«A sensibilidade nestas mulheres é diminuta, sentem pouco os movimentos do bebé. Normalmente têm atrasos uterinos», acrescenta, por sua vez, Rosa Zulmira, obstetra e ginecologista do Hospital de Santo António, também no Porto.

Os médicos diagnosticam tardiamente a gravidez quando a mulher vai às consultas queixando-se de outros sintomas e, no limite, quando aparece nas urgências hospitalares já com contracções, «disfarçadas» de dores de barriga.

O bebé, quase sempre, é assumido mas, noutras circunstâncias, é entregue para adopção.

«A casuística é muito pequena para se fazer um retrato robô» das mulheres neste tipo de situações, ressalva Cristina Canavarro, responsável pelo Serviço de Acompanhamento Psicológico da Maternidade Daniel de Matos, integrada nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC).

Poucos casos conhecidos

A psicóloga conta que, em dez anos de consultas, apareceram apenas seis casos de negação de gravidez.

Cristina Canavarro recorda-se especialmente de dois, envolvendo estudantes universitárias que deram entrada na urgência dos HUC em trabalho de parto mas queixando-se de dores de barriga: uma tinha comido em casa, momentos antes, um caldo de arroz feito pela mãe para acalmar as falsas cólicas, a outra ia dando à luz na casa de banho.

Para a psicóloga, a negação da gravidez poderá estar associada ao «sofrimento, medo» de a mulher «não ser capaz de lidar com a vida, com os outros»: pais, companheiro ou bebé.

«Por qualquer motivo, o filho não tem espaço na sua vida», afirma.

Apesar de serem gravidezes não vigiadas, os bebés nascem saudáveis, embora com menos peso do que é normal - pouco mais de dois quilos.

Cristina Canavarro ressalva que, não obstante os motivos da negação da gravidez serem pouco claros, «as relações instáveis, perturbadas, rígidas com o companheiro ou com os pais, ou que não são aprovadas socialmente» podem ter sido um «factor determinante» nos casos ocorridos nos HUC, sobretudo entre jovens que estavam grávidas pela primeira vez.
Continue a ler esta notícia