Um "guião roubado à Rússia" e um aviso aos Estados Unidos. O que fica do discurso do líder do Hezbollah - TVI

Um "guião roubado à Rússia" e um aviso aos Estados Unidos. O que fica do discurso do líder do Hezbollah

Discurso de Hassam Nasrallah foi ouvido por milhares em todo o Médio Oriente. Estas imagens chegam de Teerão (Vahid Salemi/AP)

Hassan Nasrallah demonstrou apoio à causa do Hamas, mas quis deixar claro que o grupo agiu sozinho. Sem anunciar uma entrada na guerra, foi para os Estados Unidos que o líder do Hezbollah virou as atenções

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Esperava-se um discurso enfático, teológico e até bastante agressivo, mas o líder do Hezbollah ficou “aquém do que se esperava”. Essa é a visão de Tiago André Lopes, especialista em Relações Internacionais que, à CNN Portugal, destaca a viragem do discurso para os Estados Unidos como a grande novidade.

Com efeito, e apesar de a guerra ser com Israel, Hassan Nasrallah centrou as suas palavras mais duras no ataque aos norte-americanos, lançando várias ameaças e relembrando casos de ataques bem-sucedidos contra os Estados Unidos.

“Esperava-se que fosse um discurso que virava o conflito para uma coisa maior, que escalasse, eventualmente com uma entrada direta do Hezbollah”, sublinha Tiago André Lopes, dizendo que, em vez disso, houve pouco mais do que um “elogio dos mártires palestinianos” do Hamas, que lançaram o ataque a Israel a 7 de outubro.

De resto, e ainda que demonstrando apoio à causa, Nasrallah quis deixar bem claro que essa foi uma operação cuja preparação foi integralmente feita pelo Hamas, sem qualquer colaboração do Hezbollah.

Joana Ricarte entende que essa demarcação do ataque do Hamas é a mensagem mais importante que fica do discurso do líder do Hezbollah. A especialista em Relações Internacionais refere à CNN Portugal que isso "é relevante porque o Hezbollah tem agido continuamente com trocas de farpas com Israel, faz propaganda ativa contra Israel".

"Esta declaração de demarcação, em que há uma clara dimensão que diz 'não tivemos nada que ver com isto'", vinca, explicando que o Hezbollah se posiciona como um partido que defende o Líbano, onde é uma força política reconhecida, pelo que um envolvimento do grupo na guerra poderia querer dizer uma entrada efetiva do Líbano no conflito.

A única coisa nova é mesmo a menção aos Estados Unidos, com uma “culpabilização direta de forma bastante incisiva”, o que “é uma novidade” e, ao mesmo tempo, “parece um guião roubado à Rússia, quando culpa os Estados Unidos pela guerra na Ucrânia”, diz Tiago André Lopes.

“Nasrallah quer mobilizar a causa árabe, dizendo que a guerra não é contra Israel, mas, sobretudo, contra Washington D. C.”, acrescenta o especialista.

Um discurso que acaba, assim, por ir ao encontro daquilo que tem sido a posição do presidente do Irão, que apoia política, económica e simbolicamente o Hamas, mas que já disse não ter qualquer capacidade decisória em relação aos atos do grupo pró-Palestina.

“Ebrahim Raisi já tinha dito o mesmo sobre os Estados Unidos”, reitera Tiago André Lopes, apontando que o discurso de Nasrallah “não revelou nada”, mas deixou um aviso mais concreto: “Quis formalmente marcar o ponto de que o Hezbollah pode entrar [na guerra]. Ficou uma ameaça concreta e, se algum dia entrar mesmo, vai dizer que já tinha avisado”.

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