Mário Soares: «É preciso falar com os talibãs» - TVI

Mário Soares: «É preciso falar com os talibãs»

"Assumo a derrota", diz Soares

O Afeganistão não se resolve com guerra e é preciso dialogar com os talibãs. É esta a opinião de Mário Soares, reforçada depois da conferência de Londres sobre o país

«Considero que as negociações que se estão a preparar a fim de estabelecer contacto com os talibã e de permitir uma saída aos americanos são extremamente importantes», disse o antigo presidente da República em entrevista à agência Lusa, acrescentando que «a alternativa é uma continuação da guerra que não deixará de criar sérios problemas aos Estados Unidos e à NATO, em particular no Médio Oriente».

Mário Soares reafirma que «a luta contra o terrorismo não pode ser travada nem ganha pela guerra, e muito menos apenas por meios militares (¿) Disse-o, e fui muito criticado». O socialista recorda assim a guerra colonial e as negociações entre os movimentos de libertação e o Governo português. Esta intenção de negociações foi um dos resultados da reunião de Londres, uma ideia que Mário Soares já defende há muito tempo. «Avisei que era um erro a NATO meter-se no Afeganistão, escrevi-o aliás num artigo de opinião no jornal Público», recorda.

Depois do que considerou «uma guerra errada», Soares aplaude a abertura das negociações com os talibãs: «Espero que venham ainda a tempo. E, seja como for, elas serão sempre úteis e espero que cheguem a bom porto». Na luta contra o terrorismo, «as negociações, tal como a informação, são essenciais», avisou o antigo chefe do Estado.

Mário Soares defende que a Europa defina uma estratégia comum face ao Afeganistão. «É altura de surgir uma estratégia europeia para podermos depois conjugar esforços», para que a Europa não mantenha «uma atitude subserviente» em relação às perspectivas americanas. «Até para aproveitar a o mandato, muito especial, de Barack Obama», acrescenta.

E se a situação do Afeganistão é discutida na Europa e no mundo, Mário Soares lamenta que o mesmo não aconteça em Portugal. «A guerra no Afeganistão tem infelizmente o aval da ONU e o envolvimento da NATO, o que cria a Portugal obrigações a que o país tem que atender. Seria por isso natural e importante que houvesse mais debate sobre a questão», afirma o antigo presidente da República.

Soares continua portanto crítico da intervenção no Afeganistão tal como tem sido conduzida e continua a manifestar «as maiores dúvidas» quanto ao resultado da guerra. «Disse-o aliás ao presidente da República (Cavaco Silva) no último Conselho de Estado em que se debateu a questão do Afeganistão».
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