O mundo, unido ou fingido, em Paris - TVI

O mundo, unido ou fingido, em Paris

Passos Coelho participa na marcha de solidariedade em Paris (Reuters)

Líderes mundiais tentaram passar mensagem de emoção e união. No entanto, nem todos gostaram do aproveitamento político da homenagem

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É uma imagem que vai ficar para a história. Dezenas de líderes mundiais, lado a lado, de braço dado, em homenagem às vítimas dos ataques terroristas da última semana em França. Um sinal de união que, no entanto, também foi muito criticado por aqueles que viram neste momento uma encenação de defesa de valores que não representam. 






Entre as várias presenças, o maior destaque foi dado para a aproximação entre o primeiro-ministro israelita e o presidente palestiniano. Também curioso foi ver, numa marcha intitulada «republicana», os reis da Jordânia. A maior ausência foi a de altos representantes da administração norte-americana.
 
A delegação portuguesa, encabeçada por Pedro Passos Coelho, foi mais discreta. O primeiro-ministro português colocou-se de um dos lados, já afastado da primeira fila e da maior atenção mediática.
 
No entanto, a imagem que se tornou viral nas redes sociais foi outra. Nela pode ver-se a «mancha» de chefes de Estado e de Governo isolada pelas forças de segurança, sugerindo o distanciamento total dos milhões de pessoas que estavam nas ruas de Paris.
 
Para além deste distanciamento, um outro alvo de críticas foi a presença de vários líderes de países que não consagram os direitos à liberdade de expressão e de imprensa.
 
Os Repórteres Sem Fronteiras mostraram-se mesmo «revoltados» com a presença de governantes que «restringem a liberdade de informação».
 
Citando os exemplos da Turquia, do Egito e da Rússia, a organização criticou a presença dos «representantes de regimes que são predadores da liberdade de imprensa».
 

«Devemos demonstrar a nossa solidariedade com o Charlie Hebdo, sem esquecer todos os outros Charlies do mundo. É inaceitável que representantes de países que silenciam os jornalistas tirem partido do atual momento de emoção para tentarem melhorar a sua imagem internacional e depois continuem as suas políticas repressivas quando regressarem a casa. Não devemos deixar os predadores da liberdade de imprensa cuspir nas campas do Charlie Hebdo».

 
Na Turquia, quase 70 jornalistas estão a ser acusados por denunciarem o esquema de corrupção que está relacionado com o atual presidente, Recep Tayyip Erdoğan. Na marcha de Paris esteve o primeiro-ministro turco Ahmet Davutoğlu.
 
No Egito, três jornalistas da cadeia Al Jazeera estão detidos desde dezembro de 2013 por «espalharem falsas notícias». Apesar de toda a pressão internacional, o máximo que conseguiram foi um novo julgamento. O ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros, Sameh Choukry, esteve em Paris.


Na Rússia, vários jornalistas também se encontram detidos e ativistas como as Pussy Riot continuam a ter vida difícil em termos de liberdade de expressão. O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, marchou em Paris.
 
Mas as críticas não se ficaram por aqui. Em Espanha, as redes sociais inundaram-se de comentários à presença de Mariano Rajoy, numa altura em que o governo espanhol consolida a já apelidada «Lei da Mordaça», limitando os protestos e manifestações.


Já os gregos lembraram que o mesmo Antonis Samaras que foi a Paris mandou encerrar a rádio e televisão pública ERT.


Também David Cameron viu a sua página de Twitter repleta de comentários à sua atuação durante a publicação de documentos de Edward Snowden pelo «The Guardian».
 

Os governantes portugueses também não escaparam. As palavras da presidente da Assembleia da República numa altura em que se sucediam os protestos no Parlamento foram recordadas. Assunção Esteves marchou em Paris.

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