Entre as várias presenças, o maior destaque foi dado para a aproximação entre o primeiro-ministro israelita e o presidente palestiniano. Também curioso foi ver, numa marcha intitulada «republicana», os reis da Jordânia. A maior ausência foi a de altos representantes da administração norte-americana.
A delegação portuguesa, encabeçada por Pedro Passos Coelho, foi mais discreta. O primeiro-ministro português colocou-se de um dos lados, já afastado da primeira fila e da maior atenção mediática.
No entanto, a imagem que se tornou viral nas redes sociais foi outra. Nela pode ver-se a «mancha» de chefes de Estado e de Governo isolada pelas forças de segurança, sugerindo o distanciamento total dos milhões de pessoas que estavam nas ruas de Paris.
All those world leaders: not exactly "at" the Paris rallies. pic.twitter.com/YPFq1sMf88
— ian bremmer (@ianbremmer) 12 janeiro 2015
Para além deste distanciamento, um outro alvo de críticas foi a presença de vários líderes de países que não consagram os direitos à liberdade de expressão e de imprensa.
Os Repórteres Sem Fronteiras mostraram-se mesmo «revoltados» com a presença de governantes que «restringem a liberdade de informação».
Citando os exemplos da Turquia, do Egito e da Rússia, a organização criticou a presença dos «representantes de regimes que são predadores da liberdade de imprensa».
«Devemos demonstrar a nossa solidariedade com o Charlie Hebdo, sem esquecer todos os outros Charlies do mundo. É inaceitável que representantes de países que silenciam os jornalistas tirem partido do atual momento de emoção para tentarem melhorar a sua imagem internacional e depois continuem as suas políticas repressivas quando regressarem a casa. Não devemos deixar os predadores da liberdade de imprensa cuspir nas campas do Charlie Hebdo».
Na Turquia, quase 70 jornalistas estão a ser acusados por denunciarem o esquema de corrupção que está relacionado com o atual presidente, Recep Tayyip Erdoğan. Na marcha de Paris esteve o primeiro-ministro turco Ahmet Davutoğlu.
No Egito, três jornalistas da cadeia Al Jazeera estão detidos desde dezembro de 2013 por «espalharem falsas notícias». Apesar de toda a pressão internacional, o máximo que conseguiram foi um novo julgamento. O ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros, Sameh Choukry, esteve em Paris.
Journalism is not a crime. #FreeAJStaff http://t.co/S410kOQikq pic.twitter.com/KGbbUPdHyE
— AmnestyInternational (@amnesty) 6 janeiro 2015
Na Rússia, vários jornalistas também se encontram detidos e ativistas como as Pussy Riot continuam a ter vida difícil em termos de liberdade de expressão. O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, marchou em Paris.
Mas as críticas não se ficaram por aqui. Em Espanha, as redes sociais inundaram-se de comentários à presença de Mariano Rajoy, numa altura em que o governo espanhol consolida a já apelidada «Lei da Mordaça», limitando os protestos e manifestações.
Es normal que Rajoy se manifieste en París. Aquí le multarían gracias a su ley mordaza.
— Diego Maqueda (@dmaqueda10) 11 janeiro 2015
Já os gregos lembraram que o mesmo Antonis Samaras que foi a Paris mandou encerrar a rádio e televisão pública ERT.
Samaras isn't Charlie. Blasphemy prosecutions, threats to foreign media, persecution of activists, attacks on journalists, closure of ERT.
— Asteris Masouras 正义 (@asteris) 11 janeiro 2015
Também David Cameron viu a sua página de Twitter repleta de comentários à sua atuação durante a publicação de documentos de Edward Snowden pelo «The Guardian».
@David_Cameron You told the editor of The Guardian to return the Snowden documents. Hardly an advocate of free speech are you?
— Joe Isaacs (@JLIsaacsJ) 9 janeiro 2015
Os governantes portugueses também não escaparam. As palavras da presidente da Assembleia da República numa altura em que se sucediam os protestos no Parlamento foram recordadas. Assunção Esteves marchou em Paris.
Assunção Esteves, aquela que apelidou de carrascos aqueles que, embora de forma indevida, se manifestaram na AR, também é de bué da Charlie.
— PΞNSΛDOR ZΛROLHΘ (@PensadorZarolho) 11 janeiro 2015