Uma equipa de reportagem do canal de televisão norte-americano Univision, liderada pelo conceituado jornalista Jorge Ramos, esteve detida quase três horas no palácio presidencial de Miraflores, em Caracas, depois de mostrar a Nicolás Maduro um vídeo que mostra venezuelanos a comer do lixo.
A detenção foi confirmada pela Univision, canal norte-americano em língua espanhola, que, em nota publicada no seu site, disse que os jornalistas "foram soltos" depois de "quase três horas de detenção".
O equipamento técnico foi confiscado e o grupo de jornalistas, que além de Jorge Ramos é constituído por María Martínez, Claudia Rondón, Francisco Urreiztieta, Juan Carlos Guzmán e Martín Guzmán, prepara-se para ser expulso do país na manhã desta terça-feira.
"Confirma-se que a equipa da Univisión será deportada. As autoridades migratórias apresentaram-se no hotel para notificar que seriam conduzidos ao aeroporto", anunciou o Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa (SNTP) na sua conta do Twitter.
#URGENTE | Se confirma que el equipo de #Univision será deportado. Autoridades migratorias se presentaron al hotel para notificar que serían conducidos al aeropuerto a primera hora de la mañana.
— SNTP (@sntpvenezuela) February 26, 2019
A esta hora, 12:15 am, sigue el Sebin en la entrada del hotel #26Feb
Um dos repórteres da Univision registou o momento.
En este momento el equipo de @uninoticias expulsado de Venezuela salimos del hotel en Caracas rumbo al aeropuerto. Estamos siendo acompañados por personal de las embajadas de Mexico y Estados Unidos. @jorgeramosnews @danielcoronell pic.twitter.com/01UcnCQUn9
— Pedro Ultreras (@pedroultreras) February 26, 2019
Na segunda-feira, após a entrevista, Jorge Ramos e a sua equipa da Univision foram filmados e escoltados durante todo o trajeto até ao hotel onde se encontram hospedados, por funcionários do Serviço Bolivariano de Inteligência (SEBIN, serviços secretos).
Pelas 23:00 horas locais (03:00 horas de hoje em Lisboa), o SEBIN mantinha-se no hotel, "impedindo a entrada ou saída de qualquer pessoa", segundo o sindicato.
A causa da detenção deveu-se ao facto de Nicolás Maduro ter ficado “chateado com as perguntas feitas pelo jornalista Jorge Ramos".
Não gostou quando foi questionado sobre acusações de fraude nas eleições e saiu da sala quando o repórter lhe mostrou um vídeo de venezuelanos a comer do lixo", contou.
Este es el video que @jorgeramosnews le mostró a Nicolás Maduro y que lo molestó: venezolanos comiendo de un camión de basura. pic.twitter.com/u1Uodrp0GS
— Univision Noticias (@UniNoticias) February 26, 2019
Em declarações à Univision, Jorge Ramos afirmou ter dito a Nicolás Maduro que milhões de venezuelanos o consideram um "ditador" e "ele obviamente não gostou", tendo sido uma das razões para que a entrevista fosse interrompida.
"Disse-lhe que milhões de venezuelanos e muitos governos do mundo não o consideram um presidente legítimo mas sim um ditador", contou.
Depois de cancelada a entrevista, o ministro de Comunicação e Informação venezuelano, Jorge Rodríguez, e a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, entraram na sala, "ofenderam a equipa" e chamaram Jorge Ramos de "provocador convencional".
"Vais engolir as tuas palavras com uma Coca-Cola", terão dito.
Jorge Ramos explicou ainda à Univision que durante "mais de duas horas" estiveram "metidos num quarto de segurança, com as luzes apagadas".