Air France: relatório diz que Brasil demorou a dar o alerta

O primeiro relatório sobre o acidente com o voo 447 da Air France aponta críticas às autoridades brasileiras, que, segundo a Agência de Investigações e Análises sobre a Aviação Civil (BEA), demorou a perceber o desaparecimento da aeronave o que teria provocado um atraso de uma ou duas horas nas operações de busca. Segundo o documento, os controladores de voo do Brasil não teriam transferido o voo 447 para as autoridades senegaleses, responsáveis pela monitorização do trajecto a partir do ponto virtual Tasil, no Oceano Atlântico.

Ouça a última comunicação rádio com a localização do avião

Segundo os investigadores, os brasileiros teriam feito apenas a primeira etapa do protocolo, a coordenação, que consiste em passar dados sobre o plano de voo e dizer que a aeronave se aproximava da área controlada pelo Senegal. «A transferência não foi feita e os serviços de controlo (de voo) não se preocuparam», afirmou Alain Bouillard, responsável pela investigação.

Só algumas horas depois, na ausência de contacto, é que os diferentes mecanismos de controlo foram activados. Às 7h30 (2h30 em Brasília) é que se deram conta de que o avião não estava nem em contacto com o Brasil nem com Dacar (capital do Senegal).

Brasil nega críticas

Mas as autoridades brasileiras respondem às críticas e apontam responsabilidades às congéneres do Senegal. Em comunicado, a Força Aérea Brasileira (FAB) responsabilizou o controle do tráfego aéreo de Dacar pela demora no detecção do desaparecimento da aeronave. «Caberia ao ACC [centro de controlo] DAKAR conferir o ingresso da aeronave no seu espaço aéreo, às 23h20, e alertar sobre eventuais problemas», diz o comunicado.

A autoridade aeronáutica brasileira explica que «às 22h33 do dia 31 de Maio, a tripulação do AFR 447 fez o último contacto por rádio com o órgão de controlo de tráfego aéreo brasileiro, informando a hora estimada em que sobrevoaria as próximas posições virtuais previstas na rota». A FAB adianta que «imediatamente depois, o órgão de controle de tráfego aéreo brasileiro (ACC Atlântico) informou o Centro de Controle de Dacar (ACC Dacar) que a aeronave estaria na posição virtual Tasil às 23h20, por isso, a partir dessa posição, caberia a Dacar o controle sobre a movimentação dessa aeronave rumo a França». E garante que «o ACC Dacar confirmou o recebimento dessa informação».

A FAB enviou mesmo aos jornalistas uma gravação áudio da troca de comunicações com o centro de controlo do Senegal e adianta que só três horas depois da ultima comunicação, os controladores senegaleses questionaram o Brasil sobre a situação da aeronave.

Ouça a última comunicação rádio com a localização do avião

Frisando que quer «eliminar dúvidas sobre os procedimentos adoptados pela autoridade aeronáutica brasileira em relação a essa ocorrência», a força aérea acrescenta que «no caso do AFR 447 não houve, em momento algum, captação por satélites da transmissão do sinal do equipamento de emergência (ELT) e, também, nenhuma aeronave sobrevoando a rota recebeu pedido de socorro por meio da frequência internacional de emergência (121,5MHz)» e que «somente à 1h20 do dia 1 de Junho, o ACC Dacar questionou o órgão de controle de tráfego aéreo brasileiro sobre a posição do AFR 447».

«Somente depois destes procedimentos, às 2h20 o centro de coordenação e salvamento Salvaero Recife iniciou as acções necessárias para o início da operação aérea a fim de localizar a aeronave desaparecida por meio dos procedimentos iniciais de busca de informações. E já ao nascer do sol o primeiro avião tinha partido para realizar as buscas visuais», diz o comunicado.