«E Depois»: o que faria se soubesse que ia morrer? - TVI

«E Depois»: o que faria se soubesse que ia morrer?

  • Portugal Diário
  • Luís Mateus
  • 27 jul 2006, 16:24
«E Depois...»

Um Mensageiro apresenta-se a Nathan para prepará-lo para a morte. O ilustre advogado nova-iorquino, que já «regressara» depois de se afogar num lago gelado, tem pouco tempo para inverter o rumo da sua vida

Nathan Del Amico é um dos mais famosos advogados da Big Apple. É divorciado, mas ainda está apaixonado por Mallory. Tem uma filha encantadora chamada Bonnie. Escolheu-lhe este nome porque queria, de cada vez que a chamasse, lembrar-se da palavra «bondade». Foi também pai de um menino, mas morreu ainda bebé, no berço, durante noite. Era ele quem tomava conta de Sean, a mulher tinha viajado. A dor era enorme e só o refúgio no trabalho a atenuaria, mas este seria o princípio do fim do seu casamento.

Nos tribunais era um tubarão impiedoso, mas nascera de um meio pobre, sem conhecer o pai e vivendo com a mãe, uma italiana que não recusava uma única proposta de trabalho para dar ao filho a oportunidade de estudar e ser «alguém». Foi assim que conheceu Mallory, filha do patrão da mãe, um poderoso advogado de Nova Iorque. A diferença de meio social impeliu-o para um único objectivo: tornar-se o melhor profissional da cidade e provar que era digno da frágil miúda que salvara, aos oito anos, num lago gelado.

Nathan esteve para lá das portas da morte depois de ter empurrado a jovem amiga para fora da água. Mas uma força qualquer fez com que regressasse à vida. Agora, muitos anos depois, no seu escritório, senta-se à sua frente um cirurgião, Garrett Goodrich, que poucos dias depois lhe contará a missão da sua vida: é um «Mensageiro» e prepara os outros para a morte.

«Existem pessoas que preparam aqueles que vão morrer para darem o grande salto para o outro mundo. A função delas é facilitar a separação serena entre a vida e a morte. É uma espécie de confraria. O mundo está cheio de Mensageiros, mas poucas pessoas conhecem a existência deles. Não sou um semideus. Sou apenas um homem, exactamente como você.» Assaltado por uma dor no peito, o advogado conclui que Garrett está ali por ele e lança-se sofregamente na tentativa de recuperar o tempo perdido.

O estilo Musso

Em «E Depois...» (Bertrand, 2006), Guillaume Musso consegue encontrar o equilíbrio perfeito entre uma escrita cristalina e serena, com a qual conta a história de um grande amor, e as acelerações e mudanças de rumo na trama, que lhe acrescentam o suspense natural de um thriller. Mas o francês tem mais um talento, a capacidade de fugir ao previsível, mesmo que a surpresa não chegue embrulhada em apenas uma frase. Musso prepara-nos para a guinada súbita no «volante», lembrando-nos apenas para apertar o cinto. A confirmação chega então duas páginas depois, tomando Musso a missão de Garrett, uma personagem brilhantemente construída: preparar-nos para o que aí vem.

Não é um livro em que o autor se perde no jogo de palavras, nas comparações ou nas imagens poéticas. É um livro escrito como se o lêssemos na televisão, como um filme. E se gostou de filmes como o «Sexto Sentido», de M. Night Shyamalan, então vai gostar de «E depois...»
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