Um museu australiano transferiu obras de arte de Picasso para uma casa de banho feminina, contornando uma queixa de discriminação apresentada por um visitante do sexo masculino de que não podia entrar numa exposição onde as obras estavam anteriormente penduradas.
Duas pinturas e um desenho de Pablo Picasso foram originalmente apresentados na instalação "Ladies Lounge" [salão das senhoras] da artista americana e curadora de museu Kirsha Kaechele, no Museu de Arte Antiga e Nova da Tasmânia (MONA) - inaugurado em dezembro de 2020 - "para toda e qualquer mulher".
A obra de arte experimental foi anunciada pelo museu como um "espaço tremendamente luxuoso", onde as mulheres podem deliciar-se com "petiscos decadentes, bebidas requintadas e outros prazeres femininos" servidos por um mordomo enquanto examinam a arte numa sala coberta de veludo verde.
Mas o MONA foi obrigado a deixar de recusar a entrada a "pessoas que não se identificam como senhoras" depois de o Tribunal Civil e Administrativo da Tasmânia ter decidido, em abril, que o espetáculo violava a Lei Anti-Discriminação de 1998 da Austrália.
Kaechele disse ao tribunal que negar aos homens a entrada na sala misteriosa fazia, de facto, parte da arte - dando-lhes uma amostra da discriminação e exclusão que muitas mulheres sofreram ao longo da história.
As peças de Picasso estão agora expostas numa casa de banho melhorada, com uma sanita totalmente funcional, denominada "Sala das Senhoras", situada no interior do espaço de arte, afirmou Kaechele por correio eletrónico.
"Enquanto o Ladies Lounge passa por uma série de reformas para cumprir as isenções exigidas para a reabertura, tenho estado a fazer uma pequena redecoração. Pensei que algumas das casas de banho do museu podiam ser atualizadas", acrescentou. "Um pouco de cubismo nos cubículos".
Na segunda-feira, Kaechele publicou no Instagram um vídeo e imagens das obras recolocadas no local e salientou que a casa de banho com distinção de género era também uma novidade para o museu.
E incentivou "todas as senhoras" a apreciarem a nova exposição.
"Salão das senhoras" fechado
"Nunca tivemos casas de banho femininas no Mona, eram todas unissexo. Mas depois o Ladies Lounge teve de fechar graças a uma ação judicial interposta por um homem. E eu não sabia o que fazer com todos aqueles Picassos...", escreveu Kaechele, que é também a mulher do proprietário do museu, David Walsh.
Jason Lau, um visitante de Nova Gales do Sul, foi impedido de entrar na exposição "Ladies Lounge" no dia 1 de abril de 2023. Lau, que tinha pago o bilhete de entrada, considerou ter sido vítima de discriminação direta em razão do género.
"Sentiu-se suficientemente forte a este respeito para apresentar uma queixa junto da Equal Opportunities Tasmania", lê-se nas notas do tribunal.
Após o julgamento, Kaechele disse que iria contestar a decisão do tribunal no Supremo Tribunal do estado e ofereceu várias possibilidades para reavivar o conceito de "Ladies Lounge".
Entre essas ideias conta-se a de encontrar lacunas na Secção 27 da Lei Anti-Discriminação, que enumera as excepções em que a discriminação em função do sexo é permitida. Entretanto, o lounge fechou para não ter de abrir aos homens.
Mais tarde, Kaechele discutiu possíveis formas de reabrir o "Ladies Lounge" como igreja, escola, casa de banho, etc., numa sessão de perguntas e respostas publicada no sítio Web do museu.