Os Gatos Fedorentos têm piada - TVI

Os Gatos Fedorentos têm piada

  • Portugal Diário
  • 19 out 2007, 21:52

Claro que os Gatos Fedorentos têm piada; castigam a hipocrisia dos políticos; confrontam promessas com realidades; lembram-se de coisas do arco da velha; e são anarquicamente equidistantes de todas as ideologias

Claro que os Gatos Fedorentos têm piada; castigam a hipocrisia dos políticos; confrontam promessas com realidades; lembram-se de coisas do arco da velha; e são anarquicamente equidistantes de todas as ideologias. No fundo têm um trabalhinho ideal; o capital das empresas de comunicação paga-os para que finjam de anarquistas. E porque têm muita piada têm muito sucesso. Mas têm muito sucesso porque a democracia portuguesa tem saúde débil.

A ideia prevalecente de democracia é a de um regime em que o governo faz o que a população quer e age de acordo com os respectivos interesses, desde que haja eleições dos representantes do poder legislativo e executivo.

Mas tem aqui um probleminha; este lado formal significa pouco. Os teóricos da ciência política mostraram que o problema essencial da democracia não é o voto popular mas o tipo de governantes eleitos. As eleições são a fase derradeira do processo democrático. O decisivo é quem formata as questões debatidas e quem escolhe os candidatos. Nós escolhemos os governantes. Mas quem escolhe os escolhidos?

A qualidade democrática de um governo é aferida por três coisas: (1) quem formata as questões, (2) as questões em jogo e (3) a atitude do eleitor.

Uma democracia que passa o tempo a agitar questões fracturantes produz clivagens irreconciliáveis. Se a sociedade civil não chegar a um compromisso sobre os grandes rumos sociais e se não transmitir essa confiança aos dirigentes partidários, bem podem estes agitar-se como se fossem salvar o mundo e o país.

Se um partido se arroga o monopólio dos valores e trata os outros como bestas, a democracia começa a morrer, mesmo que se preserve a forma eleitoral.

O eleitor não pode ficar em estado de ataque de nervos com a calúnia permanente dos opositores. E o eleitor é ainda menos democrático quando vota contra sua vontade porque sabe o que lhe aconteceria... se «votasse mal».

A sociedade civil tem hoje meios para influenciar a decisão polìtica e mostrar que está ciente que a democracia substancial é distinta da democracia formal. A blogosfera e a comunicação pode contrariar a televisão, os jornais, os textos escolares. Mas não pode impedir sozinha que a democracia seja destruída pelos que aderem à forma mas lhe liquidam a substância. É o que mostram «Os Gatos Fedorentos».

Esse jogo pode ser jogado de muitas maneiras. Uma delas é a dos Gatos fedorentos; tem muita piada dentro do quadrado mágico da televisão mas não tem graça nenhuma cá fora no mundo real.
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