Mini-remodelação com efeitos de aspirina mastigável

No dia em que um relatório de uma ONG britânica dá conta que mais de 700 prisioneiros de Guantanamo foram transportados «com a ajuda de Portugal», Sócrates decide dar um rebuçado à ala mais inquieta do PS e deixar a comunicação social num frenesi, desviando a atenção da abertura do ano judicial - com Marinho Pinto e José António Barreiros a travarem-se de razões - e da audição do ministro Teixeira dos Santos no caso BCP, quando ainda presidia à CMVM.

Manuel Alegre tinha na véspera ameaçado com um grupo de críticos - senão mesmo um novo partido - e Correia de Campos desgastava-se todos os dias com a pasta, pouco saudável, da Saúde.

Depois de ter sido público o desejo do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais abandonar o «barco», por razões pessoais, o primeiro-ministro aproveitou a onda em torno de hipotéticas remodelações... e remodelou.

Para a Saúde, e para alegrar os alegristas, escolheu um nome que apoiou Alegre nas presidenciais.

Nos Assuntos Fiscais repôs a tranquilidade e no ensejo de não tornar a remodelação cirúrgica numa operação em que na maca estivesse só Correia de Campos, pôs também Isabel Pires de Lima na sala, mas sem urgência. As polémicas em torno da professora da Faculdade de Letras do Porto foram curtas, acesas e estavam já ultrapassadas.

Contudo, entre os artistas tinham ficado amargos de boca e já ninguém queria a ministra em cena. Sai de cena, por isso, quem não é de cena e entra Pinto Ribeiro, cuja «cena» artística tem algum curriculum para mostrar. Nomeadamente aquele que se pinta com as palavras da militância, da cidadania, do PS dos Estados Gerais de Guterres e do socialismo de Soares.

Uma mini-remodelação com efeitos de aspirina mastigável. Enquanto o comprimido não se dissolve na boca, já as dores de cabeça abrandam. Mas dura pouco.