Santana «orquestrou» a queda de Graça Moura - TVI

Santana «orquestrou» a queda de Graça Moura

Maestro Santana (fotomontagem de Nuno Alves)

EXCLUSIVO: Actual primeiro-ministro deu instruções, ao longo de nove anos, para que Estado não pagasse dinheiro que devia à orquestra. «Erro policial» levou à apreensão dos livros do maestro

O maestro Miguel Graça Moura foi detido e obrigado a passar a noite de 24 de Novembro na prisão. Estará indiciado pelos crimes de peculato e abuso de poder enquanto responsável pela Orquestra Metropolitana de Lisboa. Mas duas fontes próximas do maestro, em entrevista exclusiva ao PortugalDiário*, defendem que por detrás deste caso judicial existe um caso de perseguição política.

Afirmam estas duas fontes que em três situações distintas, ao longo de nove anos, Santana deu instruções para que o Estado não pagasse o que devia à orquestra.

Graça Moura não simpatizava com Santana, que nunca foi a um único concerto da orquestra que co-fundou. O início da guerra entre o maestro portuense e o político começou em 1994. Numa entrevista à revista inglesa The Strad, o músico mencionou uma "gaffe" do então secretário de Estado da Cultura: «Temos um responsável pela cultura que "inventou" os concertos para violino de Chopin».



Umas semanas depois, num evento no CCB, Santana disse a Graça Moura que não tinha gostado da ironia. O maestro tentou desvalorizar o caso, mas pouco adiantou. Este episódio veio a marcar toda a vida do músico.

O sonho

Em 1992, foi criada a Associação de Música-Educação e Cultura (AMEC) para gerir a orquestra, com dinheiros públicos e privados. Graça Moura assumiu o comando da associação e tinha um milhão e meio de euros para pôr o projecto a andar. [Recorde-se que o orçamento anual da Orquestra de São Carlos, financiado pelo Estado, é de quinze milhões de euros.]

Graça Moura queria mais música clássica em Portugal e em todos os cantos do país. Optou por conciliar uma orquestra com um programa educativo. O maestro defende que o trabalho dos professores de música melhora quando tocam regularmente e que os músicos de orquestra devem diversificar e tocar a solo e em quartetos, assim como ensinar.



O projecto teve um superavit orçamental no primeiro ano, mas logo em 1993, devido à crise económica que se vivia, alguns privados não continuaram a financiar a AMEC. Só se tinham comprometido a pagar durante um ano, enquanto o Estado estava vinculado por cinco. As contas começaram a desequilibrar. A fuga dos privados coincidiu com a indisponibilidade do Estado para aumentar as suas contribuições. Santana, segundo garantem as fontes próximas do maestro, fechou a bolsa pela primeira vez. Irritado com a "gaffe" de Chopin, deu instruções para que a secretaria de Estado da cultura (SEC)- que ele tutelava - não pagasse aquilo a que estava obrigada.

A harmonia terá regressado quando Santana deixou o Governo em Dezembro de 1994 e o subsecretário de Estado, Manuel Frexes, celebrou um novo acordo com a AMEC, tendo a SEC triplicado o patrocínio. O projecto foi crescendo: a orquestra chegou a tocar 700 concertos por ano, 14 vezes mais do que a da Gulbenkian, o número de alunos nas quatro escolas da associação foi aumentando e o ensino superior de música passou a ter equivalência académica.



Mas Graça Moura queria mais. A orquestra precisava de ter a sua própria sala de espectáculos. Como o maestro se comprometeu a arranjar o dinheiro, João Soares - na altura à frente da Câmara de Lisboa - bateu palmas à ideia. O contrato com a AMEC foi renovado durante mais cinco anos. Foi nesta altura que Graça Moura cometeu o seu primeiro erro grave: acreditou na palavra de uma benemérita. Rosa Maria Gonçalves de Andrade adorava ouvir a orquestra tocar e já tinha doado mais de 180 mil contos à causa.
Comprometeu-se a financiar o novo projecto, mas a factura era agora de dois milhões e meio de contos.



A construtora ia começar a obra quando os bancos informaram Graça Moura que Rosa Maria só tinha dinheiro para suportar 10 por cento dos custos. Mas como João Soares - nessa altura em campanha - acreditava no projecto, disse ao maestro que sendo reeleito, a autarquia pagaria 30 por cento e o resto viria da Europa.

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