Miguel Relvas, crónica de uma saída anunciada (II) - TVI

Miguel Relvas, crónica de uma saída anunciada (II)

Ministro caiu «pela sua vontade», como vaticinou o primeiro-ministro

As ligações com o ex-espião implodiram num outro caso que levaram a que a demissão do ministro deixasse de ser tabu para ser um imperativo, não só a esquerda, mas também com vozes à direita. As alegadas ameaças de Miguel Relvas a uma jornalista do «Público», que a ERC não considerou provadas, lançaram o ministro num verdadeiro «caldeirão» mediático de críticas.

A denúncia de que o ministro ameaçara revelar factos da vida privada de uma jornalista (que acabou por perder o emprego) caso publicasse uma notícia sobre si, levou Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros, a pedir a demissão: «Nesse caso, se se provasse isso, eu acho que ele não devia continuar», disse. Passos Coelho veio mais uma vez em defesa: «O Governo não faz chantagens ou pressão sobre a comunicação social».

No final do mês explosivo, onde a demissão de Miguel Relvas parecia iminente a cada dia, só Passos Coelho e num debate quinzenal conseguiu atenuar a pressão e segurar o ministro. Uma atitude que fez muitos acreditar que Relvas jamais deixaria o Governo. «Não tenho nenhuma dúvida em afirmar que o senhor ministro agiu bem», disse o primeiro-ministro, que vaticinou: «A menos que abandone o Governo por outra razão, de sua própria vontade, manterá a sua função». E assim foi.

Miguel Relvas teve pouco mais de um mês para descansar de ser o centro da polémica. Se maio foi um mês explosivo para o ministro, o verão não foi menos quente. Em julho chegou o escândalo da licenciatura. Miguel Relvas completou o curso superior ao frequentar apenas quatro cadeiras de um total de 36 da licenciatura. Os cargos públicos, privados e políticos que o ministro desempenhou até 2006 foram suficientes para lhe atribuir 32 créditos.

O caso foi enviado para a PGR e levou à abertura de um inquérito pela Inspecção-Geral da Educação. Os processos judiciais foram arquivados, mas Relvas não se livrou do inquérito do ministério da Educação. As conclusões, agora conhecidas, e que indicam que o ministro deverá perder a licenciatura, deram o golpe final.

Antes deste desfecho, levantou-se uma nova onda de contestação na sociedade civil. Algo que Portugal ainda não tinha visto. Pelo Facebook foi convocada uma manifestação frente ao Parlamento que pedia a demissão do ministro. A contestação passou fronteiras na TV viu-se um cartaz, no Tour de France, que dizia: «Vai estudar, Relvas». A frase tornou-se num símbolo da indignação contra o social-democrata e foi a «machadada» que assinou a morte política do ministro.

Um «óbito» já reclamado em todos os forúns, por (quase) todos e que parecia arrastar o Governo para mais uma «lama» em que se afundava. Nada que tenha feito o primeiro-ministro reconsiderar a lealdade com o amigo de longa data. Relvas continuou e alguns (poucos) foram defendendo o que parecia já indefensável.

O ministro assume então uma postura de afastamento da vida política. Em fevereiro de 2013, Relvas reaparece no espaço público e com ele voltou a contestação, ainda mais forte. Numa intervenção no Clube dos Pensadores, Miguel Relvas é interrompido por uma «grandolada» que tenta cantar e não consegue. O ministro que já era material para piadas na Internet fornece ainda mais «sumo» para a chacota.

No dia seguinte, e com os ânimos a crescer, Miguel Relvas é alvo de novo protesto. Desta vez, na conferência dos 20 anos da TVI, o ministro, que fez uma licenciatura num ano, ousa ir falar ao ISCTE. Miguel Relvas é escoltado pelos seguranças e consegue sair da faculdade debaixo de uma onda de insultos.

O ministro estava já a viver para além da sua vida política, e ainda que desesperançados de uma demissão, os críticos não deixaram de, mais uma vez, apontar a porta da rua. A insustentabilidade política aguentou-se contra tudo, contra todos: Relvas ficou.

Ficou até ao dia em que o Governo não pode adiar mais a prova do descrédito. Relvas caiu. Mas caiu, ainda que empurrado, «pela sua vontade», como vaticinou o primeiro-ministro.
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