Relvas: «Saio por vontade própria», depois de «dura lição de vida» - TVI

Relvas: «Saio por vontade própria», depois de «dura lição de vida»

Ministro e braço direito de Passos Coelho demite-se, consciente do preço que pagou ao longo dos dois últimos anos e admite que muitas vezes se sentiu só

«Saio por vontade própria, saio apenas só e só por entender que já não tenho condições anímicas para continuar. Saio como entrei, com a mesma convicção» e solidário com o caminho «que este governo tem levado a cabo». Miguel Relvas explicou esta quinta-feira, numa declaração aos jornalistas, que tem «plena consciência do preço» que pagou ao longo destes anos e admitiu que a sua passagem pelo Governo foi uma «longa aprendizagem e uma dura lição de vida».

O ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares cessante fez um discurso algo emocionado, alegando razões pessoais e familiares para desistir. Admitiu que se sentiu muitas vezes só no Governo: «Perdoar-me-ão: tenho consciência de ter contribuído algumas vezes num caminho quase solitário para a formação eleitoral do PSD», para a «ação deste governo» e para alcançar melhores condições para «os nossos filhos e netos».

Miguel Relvas não quis tecer julgamentos sobre o seu percurso enquanto ministro, mas deixou no ar que se sente injustiçado: « Ao contrário de outros, sei que só a História julgará com objetividade e distância a acção de cada um de nós. Não pretendo proceder a qualquer avaliação do meu mandato. Creio contudo que essa postura não colide em nada com o balanço conseguido em dois anos em algumas das áreas mais relevantes cuja responsabilidade me estava atribuída».

Depois, enumerou alguns dos dossiês que teve em mãos e dos quais se sente «especialmente» orgulhoso, como é o caso da reforma da administração local, nomeadamente no que toca à reorganização do mapa autárquico, bem como a reforma da estrutura empresarial local e o processo de reestruturação da RTP. Fez questão também de referir o programa Impulso Jovem, que «merece especial destaque, num momento em que o desemprego é o principal flagelo» da sociedade.

«Outros exemplos poderia aqui deixar», como é o caso das medidas relacionadas com «emigração, juventude e desporto ou a igualdade de género». «Mas repito, resistirei a tentação de fazer um julgamento que cabe aos outros e não a mim».

O até aqui braço direito do primeiro-ministro disse que estes dois últimos anos foram anos de «muita exigência», de «orgulho», por vezes com um «ritmo excessivo para conseguir estancar no mais curto espaço de tempo possível a hemorragia que o país vivia» e inverter a situação de pré-bancarrota» em que Portugal se encontrava em 2011.

Fez, no entanto, questão de recordar que o seu trabalho já vem de longe: «Em termos pessoais, queria porém relembrar, que o caminho que percorri foi bem mais longo. Aos dois anos de funções governativas, devem somar-se os três anos se que antecederam. Acreditei e lutei no interior do meu partido pela afirmação de um novo líder que encabeçasse um novo projeto político. Depois mais um ano em que acreditei e lutei pela eleição de novo primeiro-ministro e de uma nova proposta de governação que pusesse fim ao caminho de desastre».

Foram, acrescentou, «cinco anos de extrema exigência tanto pessoal como política, em que tive o privilégio de ser chamado a lutar na primeira linha». Foi «uma longa aprendizagem» e uma «dura lição de vida».

Miguel Relvas mostrou solidariedade relativamente à ação de Passos Coelho e do Governo e quis deixar clara a sua «disponibilidade total, agora em funções diferentes, para continuar a lutar por condições melhores para Portugal». E disse que o atual primeiro-ministro «é o líder que o país precisa neste momento de tormentas».

Relvas quis ainda agradecer «a todos quantos na equipa que me coube liderar no Governo como um todo ou na sociedade civil participaram desse esforço».

No final da sua declaração de poucos minutos, os jornalistas ainda insistiram com perguntas, nomeadamente sobre a licenciatura do agora ex-ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares. Relvas disse apenas que «tudo o que tinha a dizer, está dito».
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